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Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa

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defectivo quanto o dr. P. — e reduzimos igualmente<br />

nossa apreensão <strong>do</strong> concreto e real.<br />

Por <strong>um</strong>a esp<strong>é</strong>cie de analogia cômica e pavorosa, a<br />

neurologia e a psicologia cognitivas atuais lembram<br />

nada mais nada menos <strong>que</strong> o pobre dr. P.!<br />

Necessitamos <strong>do</strong> concreto e <strong>do</strong> real, como ele<br />

necessitava; e não conseguimos perceber isso, como<br />

ele tamb<strong>é</strong>m não percebia. Nossas ciências cognitivas<br />

estão, elas próprias, sofren<strong>do</strong> de <strong>um</strong>a<br />

35<br />

agnosia essencialmente semelhante à <strong>do</strong> dr. P. Este,<br />

portanto, pode servir como <strong>um</strong> aviso e <strong>um</strong>a parábola <strong>do</strong><br />

<strong>que</strong> acontece com <strong>um</strong>a ciência <strong>que</strong> se esquiva <strong>do</strong><br />

apreciativo, <strong>do</strong> específico, <strong>do</strong> pessoal e se torna<br />

inteiramente abstrata e computista.<br />

Sempre lamentei muito <strong>que</strong> circunstâncias fora de<br />

meu controle não me tenham permiti<strong>do</strong> continuar a<br />

acompanhar o caso <strong>do</strong> dr. P, tanto no tipo de<br />

observações e investigações mencionadas como na<br />

apuração da verdadeira patologia da <strong>do</strong>ença.<br />

Existe sempre o receio de <strong>que</strong> <strong>um</strong> caso seja ”único”,<br />

especialmente quan<strong>do</strong> apresenta características tão<br />

extraordinárias quanto as <strong>do</strong> dr. P. Por isso, foi com<br />

grande interesse e satisfação, e não sem alívio, <strong>que</strong><br />

descobri, por mero acaso — folhean<strong>do</strong> o periódico Brain<br />

de 1956 —, <strong>um</strong>a descrição pormenorizada de <strong>um</strong> caso<br />

quase comicamente semelhante (de fato, idêntico) em<br />

termos neuropsicológicos e fenomenológicos, embora a<br />

patologia básica (<strong>um</strong>a lesão aguda na cabeça) e todas<br />

as circunstâncias pessoais fossem totalmente diversas.<br />

Os autores mencionam seu caso como ”único na<br />

história <strong>do</strong>c<strong>um</strong>entada deste distúrbio” e evidentemente<br />

ficaram, como eu, espanta<strong>do</strong>s com suas próprias<br />

descobertas.* O leitor interessa<strong>do</strong> pode consultar o<br />

artigo original, Macrae e Trolle [1956], <strong>do</strong> qual<br />

acrescento aqui <strong>um</strong>a breve paráfrase, com citações <strong>do</strong><br />

original.<br />

Seu paciente, <strong>um</strong> homem de 32 anos, depois de <strong>um</strong>

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