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Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa

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Casos de agnosia de desenvolvimento como esses<br />

podem ser raros, mas <strong>é</strong> com<strong>um</strong> encontrar casos de<br />

agnosia adquirida <strong>que</strong> ilustram<br />

81<br />

o mesmo princípio fundamental <strong>do</strong> uso. Por exemplo,<br />

encontro com freqüência pacientes com <strong>um</strong>a grave<br />

neuropatia em decorrência de diabetes, <strong>que</strong> se designa<br />

por neuropatia ”de luvas e meias”. Quan<strong>do</strong> essa<br />

neuropatia <strong>é</strong> suficientemente grave, os pacientes<br />

passam da insensibilidade (a sensação de estar de<br />

”luvas e meias”) à sensação de total nada ou<br />

”desrealização”. Eles podem sentir-se ”aleija<strong>do</strong>s”<br />

(como descreveu <strong>um</strong> paciente), como se tivessem<br />

”perdi<strong>do</strong>” completamente as mãos e os p<strong>é</strong>s. Às vezes<br />

eles têm a sensação de <strong>que</strong> seus braços e pernas<br />

terminam em cotos, com montes de ”massa” ou<br />

”gesso” de alg<strong>um</strong> mo<strong>do</strong> ”gruda<strong>do</strong>s” em seu corpo.<br />

Tipicamente, esse sentimento de ”desrealização”,<br />

quan<strong>do</strong> ocorre, <strong>é</strong> de <strong>um</strong> mo<strong>do</strong> totalmente súbito... e o<br />

retorno da realidade, quan<strong>do</strong> acontece, tamb<strong>é</strong>m <strong>é</strong><br />

súbito. Existe, por assim dizer, <strong>um</strong> limiar crítico<br />

(funcional e ontológico). E crucial fazer com <strong>que</strong> esses<br />

pacientes usem as mãos e os p<strong>é</strong>s — se necessário, at<strong>é</strong><br />

mesmo recorrer a ”tru<strong>que</strong>s” para levá-los a isso. Assim,<br />

tende a ocorrer <strong>um</strong>a súbita ”re-realização”- <strong>um</strong> súbito<br />

mergulho de volta à realidade e ”vida” subjetiva...<br />

contanto <strong>que</strong> exista <strong>um</strong> potencial fisiológico suficiente<br />

(se a neuropatia for total, se as partes distais <strong>do</strong>s<br />

nervos estiverem totalmente mortas, <strong>é</strong> impossível essa<br />

”re-realização”).<br />

Para os pacientes com neuropatia grave mas<br />

subtotal, <strong>um</strong> pouco de uso <strong>é</strong> absolutamente vital e<br />

decisivo para <strong>que</strong> a pessoa venha a sentir-se<br />

funcionan<strong>do</strong> razoavelmente, e não <strong>um</strong> ”aleija<strong>do</strong>” (com<br />

uso excessivo, pode ocorrer a fadiga da função nervosa<br />

limitada e novamente a súbita ”desrealização”). Cabe<br />

acrescentar <strong>que</strong> essas sensações subjetivas têm<br />

correlações objetivas precisas: comprovamos o

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