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Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa

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excitada, fren<strong>é</strong>tica, tenden<strong>do</strong> à falta de limites e ao<br />

excesso.<br />

Que para<strong>do</strong>xo, <strong>que</strong> crueldade, <strong>que</strong> ironia há nisso: a<br />

vida interior e a imaginação poderem jazer embotadas<br />

e a<strong>do</strong>rmecidas, a menos <strong>que</strong> sejam libertadas,<br />

despertadas por <strong>um</strong>a intoxicação ou <strong>do</strong>ença!<br />

Precisamente esse para<strong>do</strong>xo está no cerne de Tempo<br />

de despertar, ele tamb<strong>é</strong>m <strong>é</strong> responsável pela sedução<br />

da síndrome de Tourette (ver capítulos 10 e 14) e, sem<br />

dúvida, pela singular incerteza <strong>que</strong> pode associar-se a<br />

<strong>um</strong>a droga como a cocaína (<strong>que</strong> sabidamente eleva a<br />

<strong>do</strong>pamina no c<strong>é</strong>rebro, como faz a levo<strong>do</strong>pa ou a<br />

síndrome de Tourette). Isso explica o espantoso<br />

comentário de Freud sobre a cocaína, afirman<strong>do</strong> <strong>que</strong> a<br />

sensação de bem-estar e a euforia <strong>que</strong> ela induz ”[...]<br />

em nenh<strong>um</strong> aspecto diferem da euforia normal da<br />

pessoa saudável [...] em outras palavras, você fica<br />

simplesmente normal, e logo se torna difícil acreditar<br />

<strong>que</strong> está sob a influência de alg<strong>um</strong>a droga”.<br />

A mesma avaliação para<strong>do</strong>xal pode aplicar-se a<br />

estimulações el<strong>é</strong>tricas <strong>do</strong> c<strong>é</strong>rebro: há epilepsias <strong>que</strong><br />

são excitantes e viciam — e podem ser auto-induzidas,<br />

repetidamente, pela pessoa <strong>que</strong> a elas <strong>é</strong> propensa (da<br />

mesma forma <strong>que</strong> os ratos, com eletro<strong>do</strong>s cerebrais<br />

implanta<strong>do</strong>s, estimulam compulsivamente os ”centros<br />

de prazer” <strong>do</strong> próprio c<strong>é</strong>rebro); mas existem outras<br />

epilepsias <strong>que</strong> causam prazer e genuíno bem-estar. O<br />

bem-estar pode ser genuíno mesmo se foi causa<strong>do</strong> por<br />

<strong>um</strong>a <strong>do</strong>ença. E esse bem-estar para<strong>do</strong>xal pode at<strong>é</strong><br />

trazer <strong>um</strong> benefício dura<strong>do</strong>uro, como ocorreu coma sra.<br />

O’C. e suas estranhas ”reminiscências” convulsivas<br />

(capítulo 15).<br />

125<br />

Estamos em terreno estranho aqui, onde todas as<br />

considerações usuais podem ser invertidas — onde a<br />

<strong>do</strong>ença pode ser bem-estar e a normalidade, mal-estar,<br />

onde a excitação pode ser <strong>um</strong> cativeiro ou <strong>um</strong>a<br />

libertação e onde a realidade pode residir na ebriedade

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