Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa
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<strong>um</strong>a confusão de ruí<strong>do</strong>s.<br />
Quan<strong>do</strong> examinei a sra. O’M., nada encontrei de<br />
anormal, exceto em sua audição, e neste aspecto o <strong>que</strong><br />
constatei foi singularmente interessante. Ela<br />
apresentava <strong>um</strong>a certa surdez no ouvi<strong>do</strong> interno, de <strong>um</strong><br />
tipo com<strong>um</strong>, por<strong>é</strong>m al<strong>é</strong>m disso ela tinha <strong>um</strong>a<br />
dificuldade rara na percepção e discriminação de tons,<br />
de <strong>um</strong> tipo <strong>que</strong> os <strong>neurologista</strong>s denominam amusia e<br />
<strong>que</strong> <strong>é</strong> especialmente correlaciona<strong>do</strong> com deterioração<br />
da função <strong>do</strong>s lobos auditivos (ou temporais) <strong>do</strong><br />
c<strong>é</strong>rebro. Ela própria <strong>que</strong>ixou-se de <strong>que</strong> recentemente<br />
os hinos da capela pareciam cada vez mais iguais uns<br />
aos outros, de mo<strong>do</strong> <strong>que</strong> ela quase não conseguia<br />
distingui-los pelo tom ou melodia, precisan<strong>do</strong> basear-se<br />
na letra ou no ritmo. E, embora ela tivesse si<strong>do</strong> <strong>um</strong>a<br />
ótima cantora no passa<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> a examinei ela<br />
cantou com voz monótona e fora <strong>do</strong> tom. Mencionou<br />
tamb<strong>é</strong>m <strong>que</strong> sua música interior era mais vivida quan<strong>do</strong><br />
ela acordava, enfra<strong>que</strong>cen<strong>do</strong> à medida <strong>que</strong> outras<br />
impressões sensoriais se ac<strong>um</strong>ulavam, e <strong>que</strong> era menos<br />
provável de aparecer quan<strong>do</strong> ela estava ocupada —<br />
emocionalmente, intelectualmente, mas, em especial,<br />
visualmente. Durante o perío<strong>do</strong> de mais ou menos <strong>um</strong>a<br />
hora <strong>que</strong> passou comigo, ela ouviu música apenas <strong>um</strong>a<br />
vez — alguns compassos de ”Easter parade”, ouvi<strong>do</strong>s<br />
tão alto e tão subitamente <strong>que</strong> ela praticamente não<br />
conseguiu me escutar nesses momentos.<br />
Quan<strong>do</strong> fizemos o eletroencefalograma da sra. O’M.,<br />
foram registradas voltagem notavelmente alta e<br />
excitabilidade em ambos os lobos temporais — as<br />
partes <strong>do</strong> c<strong>é</strong>rebro associadas à representação central<br />
de sons e música e à evocação de experiências e cenas<br />
complexas. E sempre <strong>que</strong> ela ”ouvia” alg<strong>um</strong>a coisa, as<br />
ondas de alta voltagem tornavam-se acentuadas,<br />
semelhantes a espículas e manifestamente convulsivas.<br />
Isso confirmou minha id<strong>é</strong>ia de <strong>que</strong> ela tamb<strong>é</strong>m tinha<br />
epilepsia musical, al<strong>é</strong>m de <strong>do</strong>ença <strong>do</strong>s lobos temporais.<br />
Mas o <strong>que</strong> estava acontecen<strong>do</strong> com a sra. O’C. e a