19.04.2013 Views

Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa

Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa

Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Lá estava ele, o velho Sedutor, o Ator, com sua hábil<br />

retórica, seus histrionismos, seu apelo emocional — e<br />

to<strong>do</strong>s os pacientes rebentan<strong>do</strong> de rir. Bem, nem to<strong>do</strong>s:<br />

alguns pareciam perplexos, outros, indigna<strong>do</strong>s, <strong>um</strong> ou<br />

<strong>do</strong>is, apreensivos, mas a maioria parecia achar graça. O<br />

Presidente estava, como sempre, induzin<strong>do</strong> — mas, ao<br />

<strong>que</strong> parecia, induzin<strong>do</strong>-os mais ao riso. O <strong>que</strong> eles<br />

poderiam estar pensan<strong>do</strong>? Poderiam não estar<br />

compreenden<strong>do</strong> o Presidente? Ou talvez estivessem<br />

compreenden<strong>do</strong> bem demais?<br />

Com freqüência se dizia <strong>que</strong> a<strong>que</strong>les pacientes — os<br />

quais, embora inteligentes, sofriam a mais grave afasia<br />

receptiva ou global, sen<strong>do</strong> por isso incapazes de<br />

compreender as palavras em si —, não obstante sua<br />

condição, entendiam quase tu<strong>do</strong> o <strong>que</strong> lhes era dito.<br />

Seus amigos, parentes e enfermeiras, <strong>que</strong> os<br />

conheciam bem, às vezes mal conseguiam acreditar<br />

<strong>que</strong> eles eram mesmo afásicos.<br />

Isso acontecia por<strong>que</strong>, quan<strong>do</strong> lhes falavam com<br />

naturalidade, eles percebiam <strong>um</strong>a parte ou quase to<strong>do</strong><br />

o senti<strong>do</strong>. E naturalmente as pessoas falam com<br />

naturalidade.<br />

Assim, para comprovar a afasia, o <strong>neurologista</strong><br />

precisava fazer <strong>um</strong> esforço extraordinário para falar e<br />

comportar-se de maneira não natural, para remover<br />

todas as pistas não verbais — tom de voz, modulação,<br />

ênfase ou inflexão sugestivos — al<strong>é</strong>m de todas as pistas<br />

visuais (expressões, gestos, to<strong>do</strong> o repertório e postura<br />

<strong>que</strong> em<br />

97<br />

grande medida são inconscientes e pessoais); era<br />

preciso suprimir tu<strong>do</strong> isso (o <strong>que</strong> podia exigir <strong>um</strong><br />

disfarce total da pessoa e a total despersonalização da<br />

voz, chegan<strong>do</strong> ao ponto de usar <strong>um</strong> sintetiza<strong>do</strong>r de voz<br />

computa<strong>do</strong>riza<strong>do</strong>) a fim de reduzir a fala a meras<br />

palavras, <strong>um</strong>a fala inteiramente destituída <strong>do</strong> <strong>que</strong><br />

Frege denominava ”cor <strong>do</strong> tom” (Klangenfarberi) ou

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!