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Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa

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O <strong>que</strong> acontecia com o Ireneu de Borges acontece<br />

com Jos<strong>é</strong>. Mas essa não <strong>é</strong>, necessariamente, <strong>um</strong>a<br />

circunstância desafortunada: pode existir <strong>um</strong>a<br />

satisfação imensa nos detalhes, em especial se eles<br />

brilharem, como podem brilhar para Jos<strong>é</strong>, com <strong>um</strong><br />

esplen<strong>do</strong>r emblemático.<br />

Acredito <strong>que</strong> Jos<strong>é</strong>, <strong>um</strong> autista, e tamb<strong>é</strong>m deficiente<br />

mental, tem <strong>um</strong> <strong>do</strong>m tão grandioso para o concreto,<br />

para a forma, <strong>que</strong> ele <strong>é</strong>, a seu mo<strong>do</strong>, <strong>um</strong> naturalista e<br />

<strong>um</strong> artista instintivo. Apreende o mun<strong>do</strong> como formas<br />

— sentidas direta e intensamente — e as reproduz.<br />

Possui excelente capacidade para a reprodução exata,<br />

mas tamb<strong>é</strong>m capacidade para o figurativo. É capaz de<br />

desenhar com notável precisão <strong>um</strong>a flor ou <strong>um</strong> peixe,<br />

mas tamb<strong>é</strong>m pode desenhá-los como <strong>um</strong>a<br />

personificação, <strong>um</strong> emblema, <strong>um</strong> sonho ou <strong>um</strong>a<br />

brincadeira. E ainda se julga <strong>que</strong> os autistas carecem<br />

de imaginação, senso de h<strong>um</strong>or e arte!<br />

Ningu<strong>é</strong>m imagina <strong>que</strong> existam criaturas como Jos<strong>é</strong>.<br />

Ningu<strong>é</strong>m imagina <strong>que</strong> existam crianças autistasartistas<br />

como ”Nadia”. Serão eles realmente tão raros<br />

ou será <strong>que</strong> passam despercebi<strong>do</strong>s? Nigel Dennis, em<br />

<strong>um</strong> brilhante ensaio sobre Nadia na New York Review<br />

of Books (4 de maio de 1978), pergunta-se quantas<br />

”Nadias” deste<br />

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mun<strong>do</strong> podem estar sen<strong>do</strong> menosprezadas ou passar<br />

despercebidas, com suas criações notáveis amassadas<br />

e jogadas no lixo, ou simplesmente, como Jos<strong>é</strong>,<br />

tratadas irrefletidamente como <strong>um</strong> talento bizarro,<br />

isola<strong>do</strong>, irrelevante ou sem interesse. Mas o artista<br />

autista, ou (para ser menos grandiloqüente) a<br />

imaginação autista absolutamente não <strong>é</strong> rara. Encontrei<br />

<strong>um</strong>a dúzia de exemplos de pessoas assim no mesmo<br />

número de anos, e isso sem fazer <strong>um</strong> esforço específico<br />

para encontrá-las.<br />

Os autistas, por sua natureza, dificilmente são<br />

receptivos a influências. É seu ”destino” serem isola<strong>do</strong>s

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