19.04.2013 Views

Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa

Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa

Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

estu<strong>do</strong>s semelhantes de caos organiza<strong>do</strong>s produzi<strong>do</strong>s<br />

por <strong>um</strong>a grande variedade de <strong>do</strong>enças.<br />

Na primeira seção, ”Perdas”, o caso mais importante,<br />

a meu ver, <strong>é</strong> o de <strong>um</strong>a forma especial de agnosia visual:<br />

”O homem <strong>que</strong> confundiu sua mulher com <strong>um</strong> chap<strong>é</strong>u”.<br />

Em minha opinião, sua importância <strong>é</strong> fundamental.<br />

Casos assim impõem <strong>um</strong> desafio radical a <strong>um</strong> <strong>do</strong>s mais<br />

arraiga<strong>do</strong>s axiomas ou suposições da neurologia<br />

clássica: em especial, a concepção de <strong>que</strong> <strong>um</strong> dano<br />

cerebral, qual<strong>que</strong>r dano cerebral, reduz ou remove a<br />

”atitude abstrata e categórica” (no termo de Kurt<br />

Goldstein), reduzin<strong>do</strong> o indivíduo ao emocional e<br />

concreto. (Hughlings Jackson defendeu <strong>um</strong>a id<strong>é</strong>ia<br />

muito semelhante na d<strong>é</strong>cada de 1860.) Aqui, no caso <strong>do</strong><br />

dr. P., vemos exatamente o oposto disso: <strong>um</strong> homem<br />

<strong>que</strong> perdeu totalmente (embora apenas na esfera <strong>do</strong><br />

visual) o emocional, o concreto, o pessoal, o ”real”... e<br />

foi reduzi<strong>do</strong>, por assim dizer, ao abstrato e categórico,<br />

com conseqüências de <strong>um</strong> tipo particularmente<br />

estapafúrdio. O <strong>que</strong> Hughlings Jackson e Goldstein<br />

teriam acha<strong>do</strong> disso? Muitas vezes, na imaginação, eu<br />

lhes pedi <strong>que</strong> examinassem o dr. P, indagan<strong>do</strong> então:<br />

”Cavalheiros! E agora, o <strong>que</strong> me dizem?”.<br />

23<br />

1<br />

O HOMEM QUE CONFUNDIU SUA MULHER COM UM<br />

CHAPÉU<br />

O dr. P. era <strong>um</strong> músico excelente, fora c<strong>é</strong>lebre como<br />

cantor durante muitos anos e depois, na faculdade de<br />

música de sua região, como professor. Foi ali, no<br />

relacionamento com seus alunos, <strong>que</strong> certos problemas<br />

foram observa<strong>do</strong>s pela primeira vez. Às vezes <strong>um</strong> aluno<br />

se apresentava e o dr. P. não o reconhecia ou,<br />

especificamente, não reconhecia seu rosto. No<br />

momento em <strong>que</strong> o aluno falava, o dr. P. reconhecia-o<br />

pela voz. Incidentes como esse multiplicaram-se,

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!