Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa
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<strong>que</strong> existe algo al<strong>é</strong>m.<br />
De fato, não obtemos indício alg<strong>um</strong> de haver algo<br />
mais profun<strong>do</strong>, a menos <strong>que</strong> deixemos de testar os<br />
gêmeos, de considerá-los ’’sujeitos de experiência”. É<br />
preciso pôr de la<strong>do</strong> o impulso de limitar e testar e<br />
gradualmente travar conhecimento com os gêmeos —<br />
observá-los, abertamente, com serenidade, sem<br />
pressuposições, por<strong>é</strong>m com <strong>um</strong>a total e compreensiva<br />
receptividade fenomenológica, enquanto eles vivem,<br />
pensam e interagem tranqüilamente, tratan<strong>do</strong> da<br />
própria vida, com espontaneidade, em sua maneira<br />
singular. Descobrimos então <strong>que</strong> existe algo<br />
extraordinariamente misterioso em ação, poderes e<br />
intensidades de <strong>um</strong> tipo talvez fundamental, os quais<br />
não fui capaz de ”desvendar” ao longo desses dezoito<br />
anos em <strong>que</strong> os conheço.<br />
De fato, eles nada têm de extraordinário à primeira<br />
vista — são <strong>um</strong>a esp<strong>é</strong>cie de Tweedled<strong>um</strong> e Tweedledee<br />
(os gêmeos de Alice no país das maravilhas),<br />
grotescos, impossíveis de distinguir, reflexos no<br />
espelho, idênticos no rosto, nos movimentos corporais,<br />
na personalidade, na mente, idênticos tamb<strong>é</strong>m em seu<br />
estigma de dano cerebral e tecidual. Têm estatura<br />
muito baixa, cabeça e mãos tremendamente<br />
desproporcionais, palato e p<strong>é</strong>s muito ar<strong>que</strong>a<strong>do</strong>s, voz<br />
esganiçada e monótona, <strong>um</strong>a profusão de ti<strong>que</strong>s e<br />
maneirismos muito peculiares e <strong>um</strong>a fortíssima miopia<br />
degenerativa, re<strong>que</strong>ren<strong>do</strong> óculos tão grossos <strong>que</strong> faz<br />
seus olhos parecerem distorci<strong>do</strong>s e lhes dá a aparência<br />
de absur<strong>do</strong>s professorzinhos, examinan<strong>do</strong> de perto e<br />
apontan<strong>do</strong>, com <strong>um</strong>a concentração mal dirigida,<br />
obsessiva e absurda. E essa impressão <strong>é</strong> fortalecida<br />
assim <strong>que</strong> os <strong>que</strong>stionamos — ou lhes permitimos<br />
começar espontaneamente, o <strong>que</strong> tendem a fazer, como<br />
marionetes de pantomima, <strong>um</strong>a de suas ”rotinas”.<br />
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Esse <strong>é</strong> o quadro <strong>que</strong> tem si<strong>do</strong> apresenta<strong>do</strong> nos<br />
artigos publica<strong>do</strong>s e no palco—eles tendem a ser