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Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa

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limitada, mas ainda assim total, pode ocorrer em<br />

relação a determinadas formas de percepção, como<br />

descrito no capítulo anterior, ”O homem <strong>que</strong> confundiu<br />

sua mulher com <strong>um</strong> chap<strong>é</strong>u”. Havia ali <strong>um</strong>a<br />

prosopagnosia absoluta, ou seja, <strong>um</strong>a agnosia para<br />

rostos. O paciente não só era incapaz de reconhecer,<br />

mas tamb<strong>é</strong>m de imaginar ou lembrar rostos — de fato,<br />

ele perdera a própria id<strong>é</strong>ia de ”rosto”, assim como meu<br />

paciente mais afeta<strong>do</strong> perdera as id<strong>é</strong>ias de ”ver” e<br />

”luz”. Tais síndromes foram descritas por Anton na<br />

d<strong>é</strong>cada de 1890. Mas a implicação dessas síndromes —<br />

a de Korsakov e a de Anton —, o <strong>que</strong> elas acarretam e<br />

devem acarretar para o mun<strong>do</strong>, a vida, a identidade <strong>do</strong>s<br />

pacientes afeta<strong>do</strong>s, foi pouco estudada, mesmo at<strong>é</strong> o<br />

presente.<br />

No caso de Jimmie, às vezes ficávamos pensan<strong>do</strong> em<br />

como ele poderia reagir se fosse leva<strong>do</strong> de volta à sua<br />

cidade natal — efetivamente, à sua <strong>é</strong>poca pr<strong>é</strong>-amn<strong>é</strong>sia<br />

—, mas a cidadezinha de Connecticut crescera e se<br />

desenvolvera muito como passar <strong>do</strong>s anos.<br />

Posteriormente, tive a oportunidade de descobrir o <strong>que</strong><br />

poderia acontecer em circunstâncias assim, embora<br />

graças a outro paciente com a síndrome de Korsakov,<br />

Stephen R., <strong>que</strong> sofreu <strong>um</strong>a <strong>do</strong>ença aguda em 1980 e<br />

teve <strong>um</strong>a amn<strong>é</strong>sia retrógrada <strong>que</strong> remontava a apenas<br />

<strong>um</strong> ou <strong>do</strong>is anos. Com esse paciente, <strong>que</strong> tamb<strong>é</strong>m<br />

apresentava graves convulsões, hipertonia e outros<br />

problemas <strong>que</strong> re<strong>que</strong>riam internação, raras visitas de<br />

fim de semana à sua casa revelavam <strong>um</strong>a situação<br />

<strong>do</strong>lorosa. No hospital ele não conseguia reconhecer<br />

pessoa nem coisa alg<strong>um</strong>a e se mantinha em <strong>um</strong> frenesi<br />

de desorientação<br />

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quase incessante. Mas quan<strong>do</strong> a esposa o levava<br />

para casa, para sua casa <strong>que</strong> era, efetivamente,<br />

<strong>um</strong>a ”cápsula <strong>do</strong> tempo” de seus dias pr<strong>é</strong>amn<strong>é</strong>sia,<br />

ele se sentia imediatamente à vontade.

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