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Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa

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nos testes formais, mas agora estava misteriosamente<br />

”coesa” e composta.<br />

Por <strong>que</strong> ela estava tão fragmentada antes, como<br />

podia estar tão coesa agora? Tive <strong>um</strong>a fortíssima<br />

sensação de <strong>que</strong> havia <strong>do</strong>is mo<strong>do</strong>s totalmente diversos<br />

de pensamento, ou de organização, ou de ser. O<br />

primeiro, es<strong>que</strong>mático — <strong>que</strong> percebe padrões, resolve<br />

problemas —, era o <strong>que</strong> fora testa<strong>do</strong>, e no qual ela fora<br />

considerada tão deficiente, tão desastrosamente em<br />

falta. Mas os testes não haviam forneci<strong>do</strong> indício alg<strong>um</strong><br />

de qual<strong>que</strong>r coisa <strong>que</strong> não fossem d<strong>é</strong>ficits, de qual<strong>que</strong>r<br />

coisa, por assim dizer, al<strong>é</strong>m de seus d<strong>é</strong>ficits.<br />

Eles não me haviam da<strong>do</strong> indícios das capacidades<br />

positivas de Rebecca, de sua habilidade para perceber o<br />

mun<strong>do</strong> real — o mun<strong>do</strong> da natureza, e talvez da<br />

imaginação — como <strong>um</strong> to<strong>do</strong> coerente, inteligível,<br />

po<strong>é</strong>tico: sua capacidade de vê-lo, de pensá-lo e<br />

(quan<strong>do</strong> possível) vivê-lo; não me haviam mostra<strong>do</strong><br />

sinais <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> interior de Rebecca, <strong>que</strong> claramente<br />

era coeso e coerente, e podia ser apreendi<strong>do</strong> por algo<br />

diferente de <strong>um</strong>a s<strong>é</strong>rie de problemas ou tarefas.<br />

Mas qual era o princípio harmoniza<strong>do</strong>r <strong>que</strong> podia dar<br />

a Rebecca sua coerência (evidentemente era algo não<br />

es<strong>que</strong>mático)? Surpreendi-me pensan<strong>do</strong> em seu gosto<br />

por histórias, pela composição e coerência narrativa.<br />

Será possível, pensei, <strong>que</strong> este ser diante de mim —<br />

simultaneamente <strong>um</strong>a moça encanta<strong>do</strong>ra e <strong>um</strong>a d<strong>é</strong>bil<br />

mental, <strong>um</strong> acidente cognitivo — pode usar <strong>um</strong> estilo<br />

narrativo (ou dramático) para compor e integrar <strong>um</strong><br />

mun<strong>do</strong> coerente, no lugar <strong>do</strong> estilo es<strong>que</strong>mático <strong>que</strong>,<br />

nela, <strong>é</strong> tão deficiente e não funciona? E, assim<br />

pensan<strong>do</strong>, lembrei-me dela dançan<strong>do</strong>, de como isso<br />

conseguia organizar seus movimentos <strong>que</strong>, em outras<br />

ocasiões, eram tão desconexos e desajeita<strong>do</strong>s.<br />

202<br />

Nossos testes, nossas t<strong>é</strong>cnicas, pensei, enquanto a<br />

observava sentada no banco — aprecian<strong>do</strong> <strong>um</strong>a visão<br />

da natureza não apenas simples, mas sagrada —,

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