Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa
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muito superior à mecânica, sherringtoniana? (O próprio<br />
Sherrington faz alusão a essa possibilidade em Man on<br />
his nature [1940], quan<strong>do</strong> imagina a mente como <strong>um</strong><br />
”tear encanta<strong>do</strong>” a tecer em padrões sempre mutáveis,<br />
por<strong>é</strong>m sempre significativos — tecen<strong>do</strong>, de fato,<br />
padrões de senti<strong>do</strong>...)<br />
Esses padrões de senti<strong>do</strong> transcenderiam programas<br />
ou padrões puramente formais ou computistas e dariam<br />
margem à qualidade essencialmente pessoal <strong>que</strong> <strong>é</strong><br />
inerente à reminiscência, inerente a toda mnesis,<br />
gnosis e práxis. E se perguntarmos <strong>que</strong> forma, <strong>que</strong><br />
organização esses padrões poderiam ter, a resposta<br />
vem à mente de imediato (e, de certo mo<strong>do</strong>,<br />
inevitavelmente). Padrões pessoais, padrões para o<br />
indivíduo, teriam de possuir a forma de scripts ou<br />
partituras—assim como padrões abstratos, padrões<br />
para computa<strong>do</strong>r, têm de estar na forma de es<strong>que</strong>mas<br />
ou programas. Portanto, acima <strong>do</strong> nível de programas<br />
cerebrais, precisamos conceber <strong>um</strong> nível de scripts e<br />
partituras cerebrais.<br />
A partitura de ”Easter parade”, imagino, está<br />
indelevelmente gravada no c<strong>é</strong>rebro da sra. O’M. — a<br />
partitura, sua partitura, de tu<strong>do</strong><br />
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o <strong>que</strong> ela ouviu e sentiu no momento original em <strong>que</strong> a<br />
experiência foi impressa. De mo<strong>do</strong> semelhante, as<br />
partes ”dramatúrgicas” <strong>do</strong> c<strong>é</strong>rebro da sra. O’C.,<br />
aparentemente es<strong>que</strong>cidas mas ainda assim totalmente<br />
recuperáveis, devem ter guarda<strong>do</strong>, indelevelmente<br />
inscrito, o script de seu dramático cenário da infância.<br />
E cabe notar, com base nos casos de Penfield, <strong>que</strong> a<br />
remoção <strong>do</strong> diminuto ponto convulsivo <strong>do</strong> córtex, <strong>do</strong><br />
foco irritante causa<strong>do</strong>r da reminiscência, pode remover<br />
in totó a cena repetitiva e substituir <strong>um</strong>a reminiscência<br />
absolutamente específica ou ”hipermn<strong>é</strong>sia” por <strong>um</strong><br />
es<strong>que</strong>cimento ou amn<strong>é</strong>sia tamb<strong>é</strong>m absolutamente<br />
específico. Existe nisso <strong>um</strong> aspecto de extrema<br />
importância, e tamb<strong>é</strong>m assusta<strong>do</strong>r: a possibilidade de