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Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa

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E então, eu, na minha vez, depois de olhar furtivamente<br />

o <strong>livro</strong>, acrescentei minha própria e desonesta<br />

contribuição, <strong>um</strong> número primo de dez dígitos.<br />

Fez-se novamente, e por <strong>um</strong> tempo ainda mais longo,<br />

<strong>um</strong> silêncio repleto de fascinação e quietude; em<br />

seguida, John, depois de <strong>um</strong>a prodigiosa contemplação<br />

interna, saiu-se com <strong>um</strong> número de <strong>do</strong>ze dígitos. Esse<br />

eu não tinha como verificar, e assim não pude<br />

responder à altura, pois meu <strong>livro</strong> — <strong>que</strong>, pelo <strong>que</strong> eu<br />

sabia, era o único de seu gênero — não ia al<strong>é</strong>m <strong>do</strong>s<br />

números primos de dez dígitos. Mas Michael mostrouse<br />

apto para o desafio, embora demorasse cinco<br />

minutos — e <strong>um</strong>a hora mais tarde os gêmeos estavam<br />

trocan<strong>do</strong> números primos de vinte dígitos, ou pelo<br />

menos supus <strong>que</strong> fosse isso, pois não havia meio de<br />

comprovar. Tamb<strong>é</strong>m não existia <strong>um</strong>a maneira fácil, em<br />

1966, sem ter à disposição <strong>um</strong> computa<strong>do</strong>r sofistica<strong>do</strong>.<br />

E, mesmo então, teria si<strong>do</strong> difícil, pois <strong>que</strong>r usemos o<br />

crivo de Erastótenes ou qual<strong>que</strong>r outro algoritmo, não<br />

existe <strong>um</strong> m<strong>é</strong>to<strong>do</strong> simples de calcular números primos.<br />

Não existe <strong>um</strong> m<strong>é</strong>to<strong>do</strong> simples para os números primos<br />

dessa ordem — e, no entanto os gêmeos os estavam<br />

descobrin<strong>do</strong>. (Ver, por<strong>é</strong>m, o pós-escrito.)<br />

Novamente pensei em Dase, sobre <strong>que</strong>m eu tinha<br />

li<strong>do</strong> anos antes, no fascinante <strong>livro</strong> H<strong>um</strong>an personality,<br />

de F. W. H. Myers (l 903).<br />

Sabemos <strong>que</strong> Dase (talvez o mais bem-sucedi<strong>do</strong><br />

desses prodígios) era singularmente desprovi<strong>do</strong> de<br />

compreensão matemática [...] Apesar disso, em <strong>do</strong>ze<br />

anos ele produziu tabelas de fatores e números primos<br />

para o s<strong>é</strong>timo e quase to<strong>do</strong> o oitavo milhão — <strong>um</strong>a<br />

tarefa <strong>que</strong> poucos homens poderiam ter realiza<strong>do</strong>, sem<br />

auxílio mecânico, ao longo de to<strong>do</strong> <strong>um</strong> perío<strong>do</strong> normal<br />

de vida.<br />

Portanto, concluiu Myers, ele pode ser considera<strong>do</strong> o<br />

único homem a ter presta<strong>do</strong> <strong>um</strong> valioso serviço à<br />

matemática sem ser capaz de entender os conceitos<br />

matemáticos mais simples.

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