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Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa

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não inferior, às belas e vividas flores <strong>que</strong> encontramos<br />

nos herbários e trata<strong>do</strong>s de botânica medievais —<br />

meticuloso, botanicamente exato, muito embora Jos<strong>é</strong><br />

não possuísse conhecimentos formais de botânica e<br />

não pudesse aprender ou compreender essa ciência<br />

mesmo <strong>que</strong> tentasse. Sua mente não está estruturada<br />

para o abstrato, o conceitual. Isso não está disponível<br />

para ele como <strong>um</strong> caminho para a verdade. Mas ele tem<br />

paixão e real capacidade para o particular—ele o ama,<br />

entra nele, recria-o. E o particular, quan<strong>do</strong> se <strong>é</strong><br />

minucioso o bastante, tamb<strong>é</strong>m <strong>é</strong> <strong>um</strong> caminho —<br />

poderíamos dizer o caminho da natureza—para a<br />

realidade e a verdade.<br />

251<br />

O abstrato, o categórico, não <strong>é</strong> <strong>do</strong> interesse da<br />

pessoa autista — o concreto, o particular, o singular <strong>é</strong><br />

tu<strong>do</strong>. O problema está em saber se isso <strong>é</strong> <strong>um</strong>a <strong>que</strong>stão<br />

de capacidade ou inclinação. Faltan<strong>do</strong>-lhe o geral, ou<br />

não sen<strong>do</strong> inclina<strong>do</strong> para este, o autista parece compor<br />

sua imagem <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> inteiramente de pormenores.<br />

Assim, essas pessoas vivem não em <strong>um</strong> universo, mas<br />

no <strong>que</strong> William James denominou <strong>um</strong> ”multiverso” de<br />

detalhes, inúmeros, exatos e exaltadamente intensos. É<br />

<strong>um</strong> tipo de mente <strong>que</strong> se encontra no extremo oposto<br />

com relação à mente generalizante, científica, mas<br />

ainda assim ”real”, igualmente real, de <strong>um</strong>a maneira<br />

muito diferente. Uma mente como essa foi imaginada<br />

por Borges em sua história ”Funes o memorioso” (<strong>que</strong><br />

tanto lembra o mnemonista de Luria):<br />

Ele era, não nos es<strong>que</strong>çamos, quase incapaz para as<br />

id<strong>é</strong>ias de <strong>um</strong> tipo geral, platônico [...] no apinha<strong>do</strong><br />

mun<strong>do</strong> de Funes, havia apenas detalhes, quase<br />

imediatos em sua presença [...] Ningu<strong>é</strong>m [...] jamais<br />

sentiu a fúria e a pressão de <strong>um</strong>a realidade tão<br />

infatigável quanto a<strong>que</strong>la <strong>que</strong> o dia e a noite faziam<br />

convergir sobre o desafortuna<strong>do</strong> Ireneu.

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