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Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa

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menos importante, por nosso discurso, nossas<br />

narrativas faladas. Biologicamente, fisiologicamente,<br />

não somos muito diferentes uns <strong>do</strong>s outros;<br />

historicamente, como narrativas, cada <strong>um</strong> de nós <strong>é</strong><br />

único.<br />

Para sermos nós mesmos precisamos ter a nós<br />

mesmos, possuir, se necessário re-possuir, nossa<br />

história de vida. Precisamos ”rememorar” a nós<br />

mesmos, rememorar o drama íntimo, a narrativa de nós<br />

mesmos. Um homem necessita dessa narrativa, <strong>um</strong>a<br />

narrativa íntima contínua, para manter sua identidade,<br />

seu eu.<br />

Essa necessidade de narrativa talvez seja a<br />

explicação da desesperada enxurrada de histórias <strong>do</strong><br />

sr. Thompson, de sua verbosidade. Priva<strong>do</strong> da<br />

continuidade, de <strong>um</strong>a narrativa íntima serena e<br />

contínua, ele <strong>é</strong> impeli<strong>do</strong> a <strong>um</strong>a esp<strong>é</strong>cie de frenesi<br />

narrativo — daí suas incessantes histórias, suas<br />

fabulações, sua mitomania. Incapaz de manter <strong>um</strong>a<br />

narrativa ou continuidade genuína, incapaz de manter<br />

<strong>um</strong> mun<strong>do</strong> interior genuíno, ele <strong>é</strong> impeli<strong>do</strong> à<br />

proliferação de pseu<strong>do</strong>narrativas, em <strong>um</strong>a<br />

pseu<strong>do</strong>continuidade, pseu<strong>do</strong>mun<strong>do</strong>s povoa<strong>do</strong>s por<br />

pseu<strong>do</strong>pessoas, fantasmas.<br />

Como o sr. Thompson vivência isso?<br />

Superficialmente, ele <strong>é</strong> visto como <strong>um</strong> cômico exalta<strong>do</strong>.<br />

As pessoas comentam: ”Ele <strong>é</strong> hilariante”. E há muito de<br />

farsa em <strong>um</strong>a situação como essa, <strong>que</strong> pode constituir<br />

a base de <strong>um</strong> romance cômico.* É cômico, mas não só<br />

cômico - <strong>é</strong> terrível tamb<strong>é</strong>m. Pois ali está <strong>um</strong> homem<br />

<strong>que</strong>, em certo senti<strong>do</strong>, está desespera<strong>do</strong>, em frenesi. O<br />

mun<strong>do</strong> está sempre desaparecen<strong>do</strong>,<br />

NR<br />

• Um romance assim realmente foi escrito Pouco<br />

depois da publicação de ”O marinheiro<br />

perdi<strong>do</strong>” (capítulo 2), <strong>um</strong> jovem escritor,<br />

David Gilman, enviou-me os originais e seu

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