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Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa

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19<br />

ASSASSINATO<br />

Donald matou sua namorada sob a influência <strong>do</strong><br />

cloridrato de fenociclidina (PCP). Ele não se lembrava<br />

<strong>do</strong> <strong>que</strong> fizera — ou não parecia lembrar-se — e nem a<br />

hipnose nem o amital de sódio foram capazes de liberar<br />

essa lembrança. Concluiu-se, portanto, em seu<br />

julgamento, <strong>que</strong> não havia <strong>um</strong>a repressão de memória,<br />

mas <strong>um</strong>a amn<strong>é</strong>sia orgânica — o tipo de blackout muito<br />

característico <strong>do</strong> PCP. Os detalhes, revela<strong>do</strong>s no<br />

inqu<strong>é</strong>rito, eram macabros, e não puderam ser expostos<br />

em audiência pública. Foram discuti<strong>do</strong>s in câmera —<br />

ocultos <strong>do</strong> público e <strong>do</strong> próprio Donald. Houve<br />

comparação com os atos de violência ocasionalmente<br />

cometi<strong>do</strong>s durante ata<strong>que</strong>s <strong>do</strong> lobo temporal ou<br />

psicomotores. A pessoa não se recorda de tais atos, e<br />

talvez não exista a intenção de violência — <strong>que</strong>m os<br />

perpetra não <strong>é</strong> considera<strong>do</strong> responsável nem<br />

condenável, por<strong>é</strong>m ainda assim <strong>é</strong> deti<strong>do</strong> para garantir a<br />

segurança <strong>do</strong>s outros e a sua própria. Foi isso <strong>que</strong><br />

aconteceu como desventura<strong>do</strong> Donald.<br />

Ele passou quatro anos em <strong>um</strong> hospital psiquiátrico<br />

para os criminalmente insanos — apesar de haver<br />

dúvidas quanto a ele ser criminoso ou insano. Donald<br />

pareceu aceitar a reclusão com <strong>um</strong> certo alívio — a<br />

sensação de punição talvez fosse bem recebida, e sem<br />

dúvida ele sentia <strong>que</strong> havia segurança no isolamento.<br />

”Não sou apto para viver em sociedade”, dizia,<br />

melancólico, quan<strong>do</strong> <strong>que</strong>stiona<strong>do</strong>. Segurança contra <strong>um</strong><br />

descontrole súbito, perigoso — segurança, e tamb<strong>é</strong>m<br />

<strong>um</strong>a esp<strong>é</strong>cie de serenidade. Ele sempre se interessara<br />

por plantas, e esse interesse, tão construtivo, tão<br />

distante da zona de perigo das relações e ações<br />

h<strong>um</strong>anas, foi fortemente incentiva<strong>do</strong> no hospital-prisão<br />

onde Donald passou a viver. Ele se encarregou

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