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Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa

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profunda. Seu mun<strong>do</strong> fora esvazia<strong>do</strong> de sentimento e<br />

senti<strong>do</strong>. Nada mais percebi<strong>do</strong> como ”real” (ou ”irreal”).<br />

Tu<strong>do</strong> agora era ”equivalente” ou ”igual” — o mun<strong>do</strong><br />

inteiro reduzi<strong>do</strong> a <strong>um</strong>a insignificância jocosa.<br />

Para mim, aquilo era <strong>um</strong> tanto chocante — e tamb<strong>é</strong>m<br />

para seus amigos e parentes —, mas ela própria,<br />

embora não sem insight, não se incomodava, era<br />

indiferente, tinha at<strong>é</strong> mesmo <strong>um</strong>a esp<strong>é</strong>cie de<br />

despreocupação ou leviandade cômico-me<strong>do</strong>nha.<br />

A srta. B., embora perspicaz e inteligente, de alg<strong>um</strong><br />

mo<strong>do</strong> não estava presente como pessoa — estava ”sem<br />

alma”. Lembrei-me de William Thompson (e tamb<strong>é</strong>m <strong>do</strong><br />

dr. P). Esse <strong>é</strong> o efeito de ”equalização” descrito por<br />

Luria <strong>que</strong> vimos no capítulo precedente e de <strong>que</strong><br />

trataremos tamb<strong>é</strong>m no seguinte.<br />

137<br />

PÓS-ESCRTTO<br />

O tipo de indiferença jocosa e ”equalização”<br />

apresenta<strong>do</strong>s por essa paciente não são raros — os<br />

<strong>neurologista</strong>s alemães os denominam Witzelsucht<br />

(”<strong>do</strong>ença <strong>do</strong>s chistes”) — e foram reconheci<strong>do</strong>s como<br />

<strong>um</strong>a forma fundamental de ”dissolução” nervosa por<br />

Hughlíngs Jackson <strong>um</strong> s<strong>é</strong>culo atrás. A indiferença não <strong>é</strong><br />

rara, mas o insight, sim, e este, talvez felizmente,<br />

perde-se à medida <strong>que</strong> progride a ”dissolução”.<br />

Encontro muitos casos por ano com <strong>um</strong>a fenomenologia<br />

semelhante, por<strong>é</strong>m com as etiologias mais variadas. Às<br />

vezes não tenho certeza, a princípio, se o paciente está<br />

apenas sen<strong>do</strong> ”engraça<strong>do</strong>”, se está fazen<strong>do</strong> palhaçada<br />

ou se <strong>é</strong> esquizofrênico. Por exemplo, quase por acaso,<br />

encontrei as seguintes anotações sobre <strong>um</strong>a paciente<br />

com esclerose cerebral múltipla <strong>que</strong> atendi em 1981<br />

(mas cujo caso não pude acompanhar):<br />

Ela fala com muita rapidez, impulsivamente e (ao<br />

<strong>que</strong> parece) com indiferença... de mo<strong>do</strong> <strong>que</strong> o<br />

importante e o trivial, o verdadeiro e o falso, o s<strong>é</strong>rio e o

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