Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa
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<strong>livro</strong> Ctoppy boy, a história de <strong>um</strong> amn<strong>é</strong>sico<br />
como o sr Thompson, <strong>que</strong> desfruta de <strong>um</strong>a<br />
arrebatada e irrefreada liberdade de criar<br />
identidades, novos eus, conforme seus desejos<br />
e devi<strong>do</strong> a <strong>um</strong>a necessidade imperiosa — a<br />
espantosa imaginação de <strong>um</strong> gênio amn<strong>é</strong>sico,<br />
contada com ri<strong>que</strong>za e entusiasmo<br />
verdadeiramente joyceanos. Não sei se foi<br />
publicada; tenho certeza de <strong>que</strong> deveria. Não<br />
pude deixar de imaginar se o sr Gilman teria<br />
realmente conheci<strong>do</strong> (e estuda<strong>do</strong>) <strong>um</strong><br />
”Thompson” — como várias vezes imaginei se<br />
o “Funes , de Borges, tão fantasticamente<br />
semelhante ao mnemonista de Luria, poderia<br />
ter si<strong>do</strong> basea<strong>do</strong> em <strong>um</strong> encontro pessoal com<br />
<strong>um</strong> mnemomsta desses.<br />
Fim de NR.<br />
130<br />
perden<strong>do</strong> senti<strong>do</strong>, s<strong>um</strong>in<strong>do</strong>—e ele precisa procurar<br />
senti<strong>do</strong>, criar senti<strong>do</strong>, de <strong>um</strong> mo<strong>do</strong> desespera<strong>do</strong>,<br />
continuamente inventan<strong>do</strong>, jogan<strong>do</strong> pontes de senti<strong>do</strong><br />
sobre abismos de falta de senti<strong>do</strong>, o caos <strong>que</strong> se<br />
escancara continuamente sob ele.<br />
Mas será <strong>que</strong> o próprio sr. Thompson sabe disso,<br />
sente isso? Depois de achá-lo ”hilariante”, ”goza<strong>do</strong>”,<br />
”diverti<strong>do</strong>”, as pessoas ficam perturbadas, at<strong>é</strong> mesmo<br />
aterrorizadas, por alg<strong>um</strong>a coisa <strong>que</strong> há nele. ”Ele nunca<br />
pára”, dizem. ”É como <strong>um</strong> homem n<strong>um</strong>a corrida, <strong>um</strong><br />
homem tentan<strong>do</strong> pegar algo <strong>que</strong> sempre lhe foge”. E,<br />
de fato, ele nunca pode parar de correr, pois a brecha<br />
na memória, na existência, no senti<strong>do</strong>, nunca <strong>é</strong> curada,<br />
precisan<strong>do</strong> ser transposta, ser ”remendada” a cada<br />
segun<strong>do</strong>. E as pontes, os remen<strong>do</strong>s, apesar de to<strong>do</strong> o<br />
seu engenho, não funcionam — por<strong>que</strong> são fabulações,<br />
ficções <strong>que</strong> não substituem a realidade e ao mesmo<br />
tempo tamb<strong>é</strong>m não correspondem à realidade. Será <strong>que</strong><br />
o sr. Thompson sente isso? Ou, novamente, qual será o<br />
seu ”sentimento da realidade”? Será <strong>que</strong> ele vive o