Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa
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len<strong>do</strong> meus pensamentos.<br />
”Poderia ser”, respondi, ”embora eu nunca tenha<br />
visto <strong>um</strong> derrame como este. Alg<strong>um</strong>a coisa aconteceu,<br />
isso <strong>é</strong> certo, mas não creio <strong>que</strong> a senhora esteja<br />
corren<strong>do</strong> perigo. Não se preocupe e espere”.<br />
”Não <strong>é</strong> fácil esperar quan<strong>do</strong> se está passan<strong>do</strong> o <strong>que</strong><br />
eu estou passan<strong>do</strong>”, ela replicou. ”Sei <strong>que</strong> aqui está<br />
silencioso, mas eu estou em <strong>um</strong> oceano de som”.<br />
Eu <strong>que</strong>ria fazer <strong>um</strong> eletroencefalograma<br />
imediatamente, dan<strong>do</strong> atenção especial aos lobos<br />
temporais, os lobos ”musicais” <strong>do</strong> c<strong>é</strong>rebro, mas as<br />
circunstâncias conspiraram para impedir isso durante<br />
alg<strong>um</strong> tempo. Nesse ínterim, a música foi diminuin<strong>do</strong> —<br />
menos alta e, sobretu<strong>do</strong>, menos persistente. Ela<br />
conseguiu <strong>do</strong>rmir depois das três primeiras noites e,<br />
cada vez mais, conversar e ouvir conversas entre as<br />
”músicas”. Quan<strong>do</strong> por fim mandei fazer o 152<br />
eletroencefalograma, ela estava ouvin<strong>do</strong> apenas<br />
trechos ocasionais e breves de música, mais ou menos<br />
<strong>um</strong>a dúzia de vezes ao longo <strong>do</strong> dia. Depois de a termos<br />
instala<strong>do</strong> e aplica<strong>do</strong> os eletro<strong>do</strong>s em sua cabeça, pedi a<br />
ela <strong>que</strong> ficasse quieta, não dissesse nada e não<br />
”cantasse para si mesma”, mas <strong>que</strong> erguesse<br />
ligeiramente o de<strong>do</strong> indica<strong>do</strong>r — o <strong>que</strong>, por si só, não<br />
perturbaria o EEG — se ouvisse alg<strong>um</strong>a de suas músicas<br />
enquanto fazíamos o exame. No decorrer de duas horas<br />
de registro, ela ergueu o de<strong>do</strong> em três ocasiões, e cada<br />
vez <strong>que</strong> fez isso os marca<strong>do</strong>res <strong>do</strong> EEG chacoalharam,<br />
transcreven<strong>do</strong> espículas e ondas pronunciadas nos<br />
lobos temporais de seu c<strong>é</strong>rebro. Isso confirmou <strong>que</strong> ela<br />
estava realmente ten<strong>do</strong> convulsões nos lobos<br />
temporais, as quais, como Hughlings Jackson intuiu e<br />
Wilder Penfield provou, constituem a base invariável da<br />
”reminiscência” e alucinações experiências. Mas por<br />
<strong>que</strong> ela teria manifesta<strong>do</strong> subitamente esse sintoma<br />
estranho? Mandei fazer <strong>um</strong>a tomografia <strong>do</strong> c<strong>é</strong>rebro, e<br />
esta revelou <strong>que</strong> ela de fato tivera <strong>um</strong>a pe<strong>que</strong>na<br />
trombose ou infartação em parte de seu lobo temporal