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Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa

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* Ver a crítica de Jonathan Miller a Head, intitulada<br />

”The <strong>do</strong>g beneath the sfan”, em The Listener (1970).<br />

Fim de NR<br />

179<br />

sabor. Hesitante, ele experimentou o cachimbo,<br />

intoca<strong>do</strong> havia meses, e ali tamb<strong>é</strong>m percebeu sinais <strong>do</strong><br />

rico aroma <strong>que</strong> ele a<strong>do</strong>rava.<br />

To<strong>do</strong> anima<strong>do</strong>—os <strong>neurologista</strong>s não haviam da<strong>do</strong><br />

esperanças de recuperação — ele voltou ao m<strong>é</strong>dico.<br />

Por<strong>é</strong>m, depois de examiná-lo minuciosamente,<br />

empregan<strong>do</strong> a t<strong>é</strong>cnica <strong>do</strong> ”duplo cego”, o m<strong>é</strong>dico<br />

declarou: ”Não, infelizmente não há nenh<strong>um</strong> sinal de<br />

recuperação. Você ainda tem <strong>um</strong>a total anosmia. Mas <strong>é</strong><br />

curioso <strong>que</strong> agora ’sinta o cheiro’ <strong>do</strong> cachimbo e <strong>do</strong><br />

caf<strong>é</strong>...”.<br />

O <strong>que</strong> parece estar acontecen<strong>do</strong> — e <strong>é</strong> importante<br />

<strong>que</strong> apenas os tratos olfativos, e não o córtex, tenham<br />

si<strong>do</strong> danifica<strong>do</strong>s — <strong>é</strong> o desenvolvimento de <strong>um</strong>a<br />

imagem mental olfativa muito acentuada, poderíamos<br />

dizer quase <strong>um</strong>a alucinose controlada, de mo<strong>do</strong> <strong>que</strong> ao<br />

beber caf<strong>é</strong> e acender o cachimbo — situações <strong>que</strong> antes<br />

eram normalmente repletas de associações com<br />

aromas — ele agora consegue evocar ou evocar<br />

novamente esses aromas, inconscientemente e com tal<br />

intensidade <strong>que</strong> ele a princípio pensou <strong>que</strong> fossem<br />

”reais”.<br />

Essa capacidade — em parte consciente, em parte<br />

inconsciente — intensificou-se e disseminou-se. Hoje<br />

em dia, por exemplo, ele fareja e ”sente o cheiro” da<br />

primavera. Ou pelo menos traz à tona <strong>um</strong>a lembrança<br />

ou quadro <strong>do</strong>s aromas, tão intenso <strong>que</strong> ele quase<br />

consegue enganar a si mesmo, e enganar os outros,<br />

fazen<strong>do</strong> crer <strong>que</strong> realmente está sentin<strong>do</strong> o cheiro.<br />

Sabemos <strong>que</strong> essa compensação ocorre com<br />

freqüência nos cegos e nos sur<strong>do</strong>s. Lembremos o sur<strong>do</strong><br />

Beethoven e o cegt> Prescott. Mas ignoro se isso <strong>é</strong><br />

com<strong>um</strong> com a anosmia.<br />

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