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Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa

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expressa com precisão pela antiga palavra patologia.<br />

Esses relatos são <strong>um</strong>a forma de história natural, por<strong>é</strong>m<br />

nada nos dizem sobre o indivíduo e sua história, nada<br />

transmitem sobre a pessoa e sua experiência enquanto<br />

se vê diante da <strong>do</strong>ença e luta para sobreviver a ela. Não<br />

existe <strong>um</strong> ”sujeito” em <strong>um</strong> relato de caso rigoroso; os<br />

relatos de caso modernos aludem ao sujeito em <strong>um</strong>a<br />

frase superficial (indivíduo trissômico e albino, sexo<br />

feminino, 21 anos), <strong>que</strong> tanto se poderia aplicar a <strong>um</strong><br />

rato como a <strong>um</strong> ser h<strong>um</strong>ano. Para devolver o sujeito<br />

h<strong>um</strong>ano ao centro — o ser h<strong>um</strong>ano sofre<strong>do</strong>r, tortura<strong>do</strong>,<br />

em luta — devemos aprofundar <strong>um</strong> relato de caso<br />

transforman<strong>do</strong>-o em <strong>um</strong>a narrativa ou história; só<br />

então teremos <strong>um</strong> ”<strong>que</strong>m” al<strong>é</strong>m de <strong>um</strong> ”o quê”, <strong>um</strong>a<br />

pessoa real, <strong>um</strong> paciente, em relação à <strong>do</strong>ença — em<br />

relação ao físico.<br />

O ser essencial <strong>do</strong> paciente <strong>é</strong> muito relevante nas<br />

esferas superiores da neurologia e na psicologia, pois,<br />

nestas áreas, a individualidade <strong>do</strong> paciente está<br />

essencialmente envolvida, e o estu<strong>do</strong> da <strong>do</strong>ença e da<br />

identidade não pode ser desarticula<strong>do</strong>. De fato, esses<br />

distúrbios, juntamente com sua descrição e estu<strong>do</strong>,<br />

exigem <strong>um</strong>a nova disciplina, <strong>que</strong> podemos denominar<br />

”neurologia da identidade”, pois lida com as bases<br />

neurais <strong>do</strong> eu, como antiquíssimo problema de mente e<br />

c<strong>é</strong>rebro. É possível <strong>que</strong> deva existir, necessariamente,<br />

<strong>um</strong> abismo, <strong>um</strong> abismo categórico, entre o psíquico e o<br />

físico; mas os estu<strong>do</strong>s e as histórias <strong>que</strong> concernem<br />

simultaneamente a ambos — e são estes <strong>que</strong> me<br />

fascinam em especial e <strong>que</strong> (de <strong>um</strong> mo<strong>do</strong> geral)<br />

apresento neste <strong>livro</strong> — podem, não obstante, servir<br />

para aproximá-los mais, para nos levar à própria<br />

intersecção de mecanismo e vida, à relação <strong>do</strong>s<br />

processos fisiológicos coma biografia.<br />

A tradição das histórias clínicas ricamente h<strong>um</strong>anas<br />

atingiu <strong>um</strong> ponto culminante no s<strong>é</strong>culo XIX e depois<br />

declinou como advento de <strong>um</strong>a ciência neurológica<br />

impessoal. Luria escreveu: ”O poder da descrição, tão

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