19.04.2013 Views

Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa

Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa

Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

vê-la elegantemente sentada — elegantemente demais,<br />

estatuesca, como <strong>um</strong>a bailarina fazen<strong>do</strong> pose. E logo<br />

percebi <strong>que</strong> seu mo<strong>do</strong> de sentar era realmente <strong>um</strong>a<br />

pose, a<strong>do</strong>tada e mantida de maneira consciente ou<br />

automática, <strong>um</strong>a esp<strong>é</strong>cie de postura forçada,<br />

deliberada ou teatral, para compensar a contínua<br />

ausência de <strong>um</strong>a postura genuína, natural. Como a<br />

natureza falhara, ela recorrera ao ”artifício”, mas o<br />

artifício era sugeri<strong>do</strong> pela natureza e logo se tornara<br />

<strong>um</strong>a ”segunda natureza”.<br />

Algo semelhante ocorreu com sua voz — Christina de<br />

início ficara quase muda. Tamb<strong>é</strong>m a voz era projetada,<br />

como de <strong>um</strong> palco para <strong>um</strong>a plat<strong>é</strong>ia. Era <strong>um</strong>a voz<br />

estudada, teatral — não devi<strong>do</strong> a alg<strong>um</strong> histrionismo ou<br />

alteração da força vocal, mas por<strong>que</strong> não existia ainda<br />

<strong>um</strong>a postura natural da voz. E o mesmo acontecia com<br />

seu rosto — <strong>que</strong> ainda tendia a permanecer <strong>um</strong> tanto<br />

fláci<strong>do</strong> e inexpressivo (embora suas emoções íntimas<br />

fossem de intensidade plena e normal), devi<strong>do</strong> à<br />

ausência de tono e postura facial proprioceptivos,* a<br />

menos <strong>que</strong> ela empregasse <strong>um</strong> realce artificial de<br />

expressão (como os pacientes com afasia, <strong>que</strong> podem<br />

a<strong>do</strong>tar ênfases e inflexões exagera<strong>do</strong>s).<br />

Na melhor das hipóteses, por<strong>é</strong>m, to<strong>do</strong>s esses<br />

expedientes eram parciais. Tornavam a vida possível —<br />

mas não normal. Christina aprendeu a andar, usar o<br />

transporte público, realizar as atividades cotidianas —<br />

mas só sob o poder de <strong>um</strong>a enorme vigilância,<br />

NR<br />

• Pur<strong>do</strong>n Martin, quase isoladamente entre os<br />

<strong>neurologista</strong>s contemporâneos, falava com<br />

freqüência em ”postura” facial e vocal e na<br />

base destas, em ultima análise, para a<br />

integridade propnoceptiva Ele se interessou<br />

muito quan<strong>do</strong> lhe falei sobre Christina e<br />

mostrei alguns filmes e fitas gravadas sobre<br />

ela. Muitas das sugestões e formulações aqui

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!