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Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa

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ocultas no âmago mais profun<strong>do</strong> e mais forte da<br />

personalidade. Essa exploração foi em si mesma<br />

excitante e encoraja<strong>do</strong>ra, e nos deu, pelo menos, <strong>um</strong>a<br />

esperança limitada. O <strong>que</strong> de fato aconteceu superou<br />

todas as nossas expectativas e mostrou não ser mero<br />

fogo de palha, mas <strong>um</strong>a forte e permanente<br />

transformação da reatividade. Pois, quan<strong>do</strong> voltei a<br />

administrar Hal<strong>do</strong>l a Ray, na mesma <strong>do</strong>se diminuta de<br />

antes, ele se viu livre <strong>do</strong>s ti<strong>que</strong>s, mas sem efeitos<br />

perniciosos significativos — e assim tem permaneci<strong>do</strong><br />

nos últimos nove anos.<br />

Os efeitos <strong>do</strong> Hal<strong>do</strong>l neste caso foram ”milagrosos”<br />

— mas só quan<strong>do</strong> se aceitou a possibilidade de <strong>um</strong><br />

milagre. Seus efeitos iniciais haviam si<strong>do</strong> quase<br />

catastróficos: em parte, sem dúvida, por motivos<br />

fisiológicos, mas tamb<strong>é</strong>m por<strong>que</strong> qual<strong>que</strong>r ”cura” ou<br />

renúncia da síndrome de Tourette, na<strong>que</strong>le momento,<br />

teria si<strong>do</strong> prematura e economicamente impossível.<br />

Ten<strong>do</strong> apresenta<strong>do</strong> a síndrome desde os quatro anos de<br />

idade, Ray não tinha experiência de <strong>um</strong>a vida normal:<br />

era altamente dependente da<strong>que</strong>la <strong>do</strong>ença exótica e, o<br />

<strong>que</strong> era natural, a empregava e explorava de várias<br />

maneiras. Ele não estava de início disposto a abrir mão<br />

de seu mal e (só posso pensar) talvez nunca se<br />

mostrasse disposto sem a<strong>que</strong>les três meses de preparo<br />

intensivo, de análise e reflexão imensamente árduas,<br />

concentradas e profundas.<br />

Os últimos nove anos têm si<strong>do</strong>, de <strong>um</strong> mo<strong>do</strong> geral,<br />

<strong>um</strong> perío<strong>do</strong> feliz para Ray — <strong>um</strong>a libertação al<strong>é</strong>m de<br />

qual<strong>que</strong>r expectativa possível. Após vinte anos de<br />

confinamento pela síndrome de Tourette, compeli<strong>do</strong> a<br />

isto e àquilo pela grosseira fisiologia da <strong>do</strong>ença, Ray<br />

desfruta de <strong>um</strong>a amplitude e liberdade <strong>que</strong> nunca<br />

imaginara possíveis (ou <strong>que</strong> no máximo, durante<br />

nossas análises, imaginara apenas teoricamente<br />

possível). Seu casamento <strong>é</strong> <strong>um</strong>a relação terna e estável<br />

— e agora ele tamb<strong>é</strong>m <strong>é</strong> pai. Ele tem vários bons<br />

amigos, <strong>que</strong> gostam dele e o valorizam como pessoa - e

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