19.04.2013 Views

Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa

Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa

Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

transfiguradas por <strong>um</strong>a esp<strong>é</strong>cie de gênio inocente,<br />

habili<strong>do</strong>so e muitas vezes cômico. Ela precisava agora<br />

explorar a face e a figura h<strong>um</strong>ana, em repouso e em<br />

movimento. Ser ”senti<strong>do</strong>” por Madeleine era <strong>um</strong>a<br />

experiência marcante. Suas mãos, pouco tempo antes<br />

inertes, pastosas, pareciam agora impregnadas de<br />

animação e sensibilidade sobrenaturais. A pessoa não<br />

era meramente reconhecida, esquadrinhada, de <strong>um</strong>a<br />

maneira mais intensa e perscruta<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> <strong>que</strong> <strong>um</strong><br />

minucioso exame visual, mas ”provada” e apreciada<br />

com meditação, imaginação e est<strong>é</strong>tica por <strong>um</strong>a artista<br />

nata (rec<strong>é</strong>m-nascida). Eram, tinha-se a impressão, não<br />

apenas as mãos de <strong>um</strong>a cega exploran<strong>do</strong>, mas de <strong>um</strong>a<br />

artista cega, <strong>um</strong>a mente meditativa e criativa, <strong>que</strong><br />

acabara de abrir-se para a plena realidade sensível e<br />

espiritual <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Essas explorações tamb<strong>é</strong>m<br />

demandavam representação e reprodução como <strong>um</strong>a<br />

realidade externa.<br />

Ela passou a modelar cabeças e figuras e, em menos<br />

de <strong>um</strong> ano, tornou-se localmente famosa como a<br />

Escultora Cega <strong>do</strong> St. Benedict. Suas esculturas<br />

tendiam a ter três quartos ou metade <strong>do</strong> tamanho<br />

natural, com características simples mas reconhecíveis<br />

e com <strong>um</strong>a notável energia expressiva. Para mim, para<br />

ela, para nós to<strong>do</strong>s, era <strong>um</strong>a experiência imensamente<br />

comovente, espantosa, quase milagrosa. Quem teria<br />

sonha<strong>do</strong> <strong>que</strong> capacidades básicas de percepção, <strong>que</strong><br />

não haviam si<strong>do</strong> adquiridas nos primeiros meses de<br />

vida como ocorria normalmente, pudessem ser<br />

alcançadas no sexag<strong>é</strong>simo ano de vida? Que<br />

maravilhosas possibilidades de aprendiza<strong>do</strong><br />

80<br />

tardio, de aprendiza<strong>do</strong> para os incapacita<strong>do</strong>s, isso<br />

abria! E <strong>que</strong>m teria sonha<strong>do</strong> <strong>que</strong> na<strong>que</strong>la mulher cega e<br />

paralítica, escondida, desativada, superprotegida toda<br />

a sua vida, vivia o germe de <strong>um</strong>a espantosa<br />

sensibilidade artística (ignorada por ela e pelos outros)<br />

<strong>que</strong> germinaria e floresceria em <strong>um</strong>a rara e bela

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!