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Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa

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vi, em abril, e a morte de sua avó, em novembro,<br />

Rebecca — como to<strong>do</strong>s os nossos ”clientes” (<strong>um</strong> termo<br />

detestável <strong>que</strong> na <strong>é</strong>poca estava entran<strong>do</strong> em voga, por<br />

ser supostamente menos degradante <strong>do</strong> <strong>que</strong><br />

”pacientes”) — foi pressurosamente mandada para <strong>um</strong>a<br />

s<strong>é</strong>rie de workshops e aulas, como parte de nosso<br />

Incentivo ao Desenvolvimento Cognitivo (tamb<strong>é</strong>m estes<br />

eram termos da moda na <strong>é</strong>poca).<br />

Não funcionou com Rebecca, não funcionou com a<br />

maioria deles. Acabei perceben<strong>do</strong> <strong>que</strong> não era aquilo<br />

<strong>que</strong> se devia fazer, pois nós os estávamos lançan<strong>do</strong><br />

diretamente contra suas limitações, como já fora feito,<br />

em vão, e muitas vezes ao ponto de crueldade, durante<br />

toda a vida da<strong>que</strong>las pessoas.<br />

Dávamos demasiada atenção aos defeitos de nossos<br />

pacientes, como Rebecca foi a primeira a me mostrar, e<br />

pouquíssima atenção ao <strong>que</strong> estava intacto ou<br />

preserva<strong>do</strong>. Usan<strong>do</strong> aqui mais <strong>um</strong> termo <strong>do</strong><br />

204<br />

jargão, estávamos preocupa<strong>do</strong>s demais com a<br />

”defectologia” e muito pouco com a ”narratologia”, a<br />

negligenciada e necessária ciência <strong>do</strong> concreto.<br />

Rebecca evidenciou, com ilustrações concretas, com<br />

sua própria pessoa, as duas formas de pensamento e<br />

mente totalmente diferentes, separadas, a<br />

”paradigmática” e a ”narrativa” (na terminologia de<br />

Bruner). E, embora igualmente naturais e inatas na<br />

mente h<strong>um</strong>ana em desenvolvimento, a narrativa vem<br />

primeiro, tem prioridade espiritual. Crianças muito<br />

pe<strong>que</strong>nas apreciam e pedem histórias, são capazes de<br />

entender assuntos complexos apresenta<strong>do</strong>s em forma<br />

de histórias, quan<strong>do</strong> suas capacidades de entender<br />

conceitos gerais, paradigmas, são quase inexistentes. É<br />

esse poder narrativo ou simbólico <strong>que</strong> proporciona <strong>um</strong><br />

senso <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> — <strong>um</strong>a realidade concreta na forma<br />

imaginativa de símbolos e histórias — quan<strong>do</strong> o<br />

pensamento abstrato nada pode fornecer. Uma criança<br />

entende a Bíblia antes de entender Euclides. Não

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