Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa
Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa
Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
extraordinários poderes... e perigos: e no caso <strong>do</strong>s<br />
deficientes mentais vemo-nos face a face com o<br />
concreto, o concreto puro e simples, com <strong>um</strong>a<br />
intensidade sem reservas.<br />
O concreto pode abrir portas, e tamb<strong>é</strong>m pode fechálas.<br />
Pode constituir o portal para a sensibilidade, a<br />
imaginação, a intensidade. Ou pode restringir o<br />
possui<strong>do</strong>r (ou possuí<strong>do</strong>) a detalhes insignificantes.<br />
Encontramos esses <strong>do</strong>is potenciais, amplifica<strong>do</strong>s, por<br />
assim dizer, nos deficientes mentais.<br />
Os poderes intensifica<strong>do</strong>s de imagens mentais<br />
concretas e memória, a compensação da Natureza pela<br />
deficiência no conceitual e no abstrato podem ass<strong>um</strong>ir<br />
direções opostas: <strong>um</strong>a excessiva preocupação com<br />
detalhes, o desenvolvimento de imagens mentais e<br />
memória eid<strong>é</strong>ticas e a mentalidade <strong>do</strong> ”menino<br />
prodígio” exibicionista (como ocorria com o<br />
mnemonista e, antigamente, com o cultivo excessivo da<br />
”arte da memória” concreta:* encontramos tais<br />
tendências em Martin A. (capítulo 22), em Jos<strong>é</strong><br />
(capítulo 24) e especialmente nos gêmeos (capítulo<br />
23), exageradas, especialmente nos gêmeos, pelas<br />
demandas da apresentação pública aliadas à obsessão<br />
e exibicionismo <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is).<br />
De interesse muito maior, por<strong>é</strong>m, muito mais<br />
h<strong>um</strong>ano, muito mais comovente, muito mais ”real” — e,<br />
no entanto, pouquíssimo reconheci<strong>do</strong> em estu<strong>do</strong>s<br />
científicos sobre os deficientes mentais (embora<br />
percebi<strong>do</strong> imediatamente por pais e professores<br />
compreensivos) — <strong>é</strong> o uso e desenvolvimento adequa<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong> concreto.<br />
O concreto, igualmente, pode tornar-se <strong>um</strong> veículo<br />
de mist<strong>é</strong>rio, beleza e profundidade, <strong>um</strong> caminho para<br />
as emoções, a imaginação, o espírito — tanto quanto<br />
qual<strong>que</strong>r concepção abstrata (e talvez at<strong>é</strong> mais, como<br />
asseverou Gershom Scholem (1965) ao contrastar o<br />
conceitual e o simbólico, ou Jerome Bruner (1984) em<br />
seu contraste entre ”paradigmático” e ”narrativo”). O