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Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa

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Fig. Do peixe.<br />

Sem <strong>que</strong>rer, tamb<strong>é</strong>m sorri enquanto ele desenhava,<br />

pois agora, sentin<strong>do</strong>-se à vontade comigo, ele estava se<br />

soltan<strong>do</strong>, e o <strong>que</strong> estava emergin<strong>do</strong>, dissimuladamente,<br />

não era só <strong>um</strong> peixe, mas <strong>um</strong> peixe com <strong>um</strong>a esp<strong>é</strong>cie<br />

de ”caráter”.<br />

O original carecia de caráter, parecia sem vida,<br />

bidimensional,<br />

240<br />

at<strong>é</strong> mesmo empalha<strong>do</strong>. O peixe de Jos<strong>é</strong>, em contraste,<br />

inclina<strong>do</strong> e equilibra<strong>do</strong>, era ricamente tridimensional,<br />

muito mais pareci<strong>do</strong> com <strong>um</strong> peixe de verdade <strong>do</strong> <strong>que</strong> o<br />

original. Não era apenas verossimilhança e animação<br />

<strong>que</strong> tinham si<strong>do</strong> acrescentadas, mas algo mais, algo<br />

ricamente expressivo, embora não por completo, da<br />

natureza <strong>do</strong>s peixes: <strong>um</strong>a boca enorme, cavernosa,<br />

lembran<strong>do</strong> a da baleia, <strong>um</strong> focinho meio crocodiliano,<br />

<strong>um</strong> olho distintamente h<strong>um</strong>ano, ningu<strong>é</strong>m negaria; e o<br />

peixe tinha <strong>um</strong>a aparência geral positivamente marota.<br />

Era <strong>um</strong> peixe muito engraça<strong>do</strong> — não admira <strong>que</strong> Jos<strong>é</strong><br />

tivesse sorri<strong>do</strong> —, <strong>um</strong>a esp<strong>é</strong>cie de pessoa-peixe, <strong>um</strong><br />

personagem de história infantil, como o sapo lacaio de<br />

Alice.<br />

Agora eu tinha algo para prosseguir. O desenho <strong>do</strong><br />

relógio me espantara, despertara meu interesse, mas<br />

não permitia, em si mesmo, reflexões ou conclusões de<br />

qual<strong>que</strong>r tipo. A canoa mostrara <strong>que</strong> Jos<strong>é</strong> possuía <strong>um</strong>a<br />

impressionante memória visual, e mais. O peixe<br />

revelara <strong>um</strong>a imaginação ativa e distinta, <strong>um</strong> senso de<br />

h<strong>um</strong>or e <strong>um</strong> quê de arte de conto de fadas. Certamente<br />

não <strong>um</strong>a grande arte, era ”primitiva”, talvez infantil,<br />

mas, sem dúvida, <strong>um</strong>a esp<strong>é</strong>cie de arte. E imaginação,<br />

senso de h<strong>um</strong>or, arte <strong>é</strong> precisamente o <strong>que</strong> não se<br />

espera em idiotas, ou sábios idiotas, nem nos autistas.<br />

Essa, pelo menos, <strong>é</strong> a opinião pre<strong>do</strong>minante.<br />

Minha amiga e colega Isabelle Rapin, na verdade,<br />

tinha examina<strong>do</strong> Jos<strong>é</strong> anos antes, quan<strong>do</strong> o haviam

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