Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa
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mais <strong>um</strong> dezesseis avôs de sua porção (evidentemente<br />
deixan<strong>do</strong> no prato o <strong>um</strong> dezesseis avôs restante, o <strong>do</strong><br />
la<strong>do</strong> es<strong>que</strong>r<strong>do</strong>). ”É absur<strong>do</strong>”, ela comenta. ”Eu me sinto<br />
como a flecha de Zenão — nunca chego lá. Pode parecer<br />
engraça<strong>do</strong>, mas, dadas as circunstâncias, o <strong>que</strong> mais<br />
posso fazer?<br />
Pareceria muito mais simples para ela girar o prato<br />
em vez de a si mesma. Ela concorda, e já tentou fazer<br />
isso — ou pelo menos tentou fazer a tentativa. Mas <strong>é</strong><br />
estranhamente difícil, não ocorre naturalmente, ao<br />
passo <strong>que</strong> girar na cadeira sim, por<strong>que</strong> seu olhar, sua<br />
atenção, seus movimentos espontâneos e impulsos são<br />
agora to<strong>do</strong>s exclusiva e instintivamente para a direita.<br />
Especialmente consterna<strong>do</strong>r para ela foi a zombaria<br />
com <strong>que</strong> a receberam no dia em <strong>que</strong> apareceu com<br />
apenas metade <strong>do</strong> rosto maquia<strong>do</strong> e o outro la<strong>do</strong><br />
absurdamente sem batom e ruge. ”Olhei no espelho e<br />
passei a maquiagem em tu<strong>do</strong> o <strong>que</strong> vi”, disse ela.<br />
Ficamos imaginan<strong>do</strong> se seria possível ela ter <strong>um</strong><br />
”espelho” <strong>que</strong> lhe permitisse enxergar o la<strong>do</strong> es<strong>que</strong>r<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong> rosto à direita, ou seja, como ela seria vista por<br />
algu<strong>é</strong>m <strong>que</strong> estivesse diante dela. Tentamos <strong>um</strong><br />
sistema de vídeo, com a câmera e o monitor de frente<br />
para ela, e os resulta<strong>do</strong>s foram espantosos e bizarros.<br />
Pois, usan<strong>do</strong> a tela <strong>do</strong> vídeo com o ”espelho”, ela via o<br />
la<strong>do</strong> es<strong>que</strong>r<strong>do</strong> <strong>do</strong> rosto à sua direita, <strong>um</strong>a experiência<br />
desnorteante at<strong>é</strong> mesmo para <strong>um</strong>a pessoa normal<br />
(como bem sabe qual<strong>que</strong>r <strong>um</strong> <strong>que</strong> tenha tenta<strong>do</strong><br />
barbear-se usan<strong>do</strong> <strong>um</strong>a tela de vídeo), e duplamente<br />
desnorteante, antinatural para ela, por<strong>que</strong> o<br />
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la<strong>do</strong> es<strong>que</strong>r<strong>do</strong> de seu rosto e corpo, <strong>que</strong> ela agora via,<br />
não tinha sensações, não tinha existência para ela<br />
devi<strong>do</strong> ao derrame. ”Tire isso daqui!”, ela gritou, aflita<br />
e perplexa, e por isso não levamos avante a tentativa.<br />
Isso <strong>é</strong> lamentável, pois, como tamb<strong>é</strong>m refletiu R. L.<br />
Gregory poderia haver grandes promessas nessas<br />
formas de feedback por vídeo para pacientes com