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Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa

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existe. Esse caráter não <strong>que</strong>stionável <strong>do</strong> corpo, a<br />

certeza <strong>do</strong> mesmo, <strong>é</strong> para Wittgenstein o princípio e a<br />

base de to<strong>do</strong> conhecimento e certeza. Assim, em seu<br />

último <strong>livro</strong> (Sobre a certeza), ele começa afirman<strong>do</strong>:<br />

”Se você verdadeiramente sabe <strong>que</strong> aqui está <strong>um</strong>a<br />

mão, nós admitiremos tu<strong>do</strong> o mais”. Por<strong>é</strong>m, no mesmo<br />

raciocínio, na mesma página inicial, ele diz: ”O <strong>que</strong><br />

podemos indagar <strong>é</strong> se pode ter senti<strong>do</strong> duvidar disso<br />

[...]” e, <strong>um</strong> pouco adiante: ”Posso duvidar disso?<br />

Faltam razões para a duvida!”.<br />

De fato, seu <strong>livro</strong> poderia ser intitula<strong>do</strong> Sobre a<br />

dúvida, pois <strong>é</strong> marca<strong>do</strong> pelas dúvidas tanto quanto<br />

pelas afirmações. Especificamente, ele reflete — e<br />

podemos, por nosso la<strong>do</strong>, pensar se essas id<strong>é</strong>ias talvez<br />

não teriam si<strong>do</strong> incitadas pelo fato de ele trabalhar com<br />

pacientes, em <strong>um</strong> hospital, durante a guerra — na<br />

possibilidade de existirem situações ou condições <strong>que</strong><br />

extinguem a certeza quanto ao corpo, <strong>que</strong> de fato dão<br />

motivos para <strong>que</strong> a pessoa duvide de seu corpo, talvez<br />

at<strong>é</strong> perca seu corpo inteiro na dúvida total. Essa id<strong>é</strong>ia<br />

parece <strong>do</strong>minar seu último <strong>livro</strong> como <strong>um</strong> pesadelo.<br />

Christina era <strong>um</strong>a moça robusta de 27 anos,<br />

aficionada <strong>do</strong> hó<strong>que</strong>i e da equitação, segura e forte de<br />

corpo e mente. Tinha <strong>do</strong>is filhos pe<strong>que</strong>nos e trabalhava<br />

em casa como programa<strong>do</strong>ra de computa<strong>do</strong>res. Era<br />

inteligente e culta, aprecia<strong>do</strong>ra de bale e <strong>do</strong>s poetas de<br />

Lakeland (por<strong>é</strong>m não, a meu ver, de Wittgenstein).<br />

Levava <strong>um</strong>a vida ativa e movimentada — quase nunca<br />

passara <strong>um</strong> dia <strong>do</strong>ente. Surpreendeu-se <strong>um</strong> pouco<br />

quan<strong>do</strong>, depois de <strong>um</strong> acesso de <strong>do</strong>r ab<strong>do</strong>minal,<br />

verificou-se <strong>que</strong> ela estava com cálculos biliares, sen<strong>do</strong><br />

aconselhável a remoção da vesícula biliar.<br />

Foi internada no hospital três dias antes da cirurgia,<br />

e passou a tomar antibióticos para a profilaxia<br />

microbiana. Tratava-se de pura rotina, de <strong>um</strong>a<br />

precaução, não sen<strong>do</strong> esperada qual<strong>que</strong>r complicação.<br />

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Christina compreendeu isso e, sen<strong>do</strong> <strong>um</strong>a pessoa

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