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Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa

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<strong>um</strong>a ”compensação” pelo dano cerebral e limitações<br />

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intelectuais? Jamais saberemos. O certo <strong>é</strong> <strong>que</strong> seu pai<br />

transmitiu-lhe não apenas seus genes musicais, mas<br />

seu grande amor pela música, na intimidade <strong>do</strong><br />

relacionamento entre pai e filho, e talvez na relação<br />

especialmente terna entre <strong>um</strong> pai e <strong>um</strong> filho com<br />

retar<strong>do</strong> mental. Martin — lento, desajeita<strong>do</strong> — era<br />

ama<strong>do</strong> por seu pai, e o amava ardentemente em<br />

retribuição; e o amor <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is consolidava-se com o<br />

amor com <strong>um</strong> pela música.<br />

A grande mágoa da vida de Martin era não poder<br />

seguir o pai e ser como ele <strong>um</strong> famoso cantor de óperas<br />

e oratórios — mas isso não era <strong>um</strong>a obsessão, e Martin<br />

encontrava, e dava, muito prazer no <strong>que</strong> era capaz de<br />

fazer. At<strong>é</strong> mesmo pessoas famosas o consultavam,<br />

conhecen<strong>do</strong> sua memória excepcional, <strong>que</strong> se estendia<br />

da música em si a to<strong>do</strong>s os detalhes da apresentação.<br />

Ele desfrutava <strong>um</strong>a fama modesta como ”enciclop<strong>é</strong>dia<br />

ambulante”, pois conhecia não só a música de 2 mil<br />

óperas, mas to<strong>do</strong>s os cantores <strong>que</strong> tinham<br />

representa<strong>do</strong> os pap<strong>é</strong>is em inúmeras apresentações e<br />

to<strong>do</strong>s os detalhes de cenários, encenação, figurino e<br />

decoração. (Ele tamb<strong>é</strong>m se orgulhava de conhecer Nova<br />

York rua por rua, casa por casa—e de saber o itinerário<br />

de to<strong>do</strong>s os ônibus e trens.) Portanto, ele era <strong>um</strong><br />

aficiona<strong>do</strong> da ópera e tamb<strong>é</strong>m <strong>um</strong>a esp<strong>é</strong>cie de ”idiota<br />

sábio”. Sentia <strong>um</strong> certo prazer infantil com tu<strong>do</strong> isso —<br />

o prazer <strong>do</strong>s eid<strong>é</strong>ticos e entusiastas excêntricos. Mas o<br />

verdadeiro prazer—e única coisa <strong>que</strong> tornava a vida<br />

suportável—era a efetiva participação em eventos<br />

musicais, cantan<strong>do</strong> no coro de igrejas locais (para sua<br />

tristeza, ele não podia ser o solista devi<strong>do</strong> à disfonia),<br />

especialmente nos grandes eventos da Páscoa e <strong>do</strong><br />

Natal, as Paixões de João e Mateus, o Oratório de Natal<br />

e o Messias, <strong>que</strong> ele cantara por cinqüenta anos, desde<br />

menino, nas grandes igrejas e catedrais da cidade. Ele<br />

tamb<strong>é</strong>m cantara na Metropolitan e, quan<strong>do</strong> a

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