19.04.2013 Views

Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa

Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa

Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

filme agora mesmo”.<br />

”Para mim está ótimo, <strong>do</strong>utor”, disse ele e, depois de<br />

<strong>um</strong>a ou duas investidas, levantou-se. Que velho<br />

admirável, pensei. Noventa e três anos — e não parece<br />

ter mais de setenta. Alerta, vivo como só ele. Pode<br />

passar <strong>do</strong>s cem. E forte como <strong>um</strong> estiva<strong>do</strong>r, mesmo<br />

ten<strong>do</strong> <strong>do</strong>ença de Parkinson. Ele an<strong>do</strong>u, confiante,<br />

c<strong>é</strong>lere, mas incrivelmente inclina<strong>do</strong>, uns bons vinte<br />

graus, com seu centro de gravidade muito desloca<strong>do</strong><br />

para a es<strong>que</strong>rda, manten<strong>do</strong> o equilíbrio por <strong>um</strong>a<br />

margem mínima.<br />

”Pronto!”, disse ele, sorrin<strong>do</strong> satisfeito. ”Está ven<strong>do</strong>?<br />

Sem problemas — andei perfeitamente a pr<strong>um</strong>o”.<br />

88<br />

”An<strong>do</strong>u mesmo, senhor MacGregor?”, perguntei.<br />

”Quero <strong>que</strong> julgue por si próprio”.<br />

Voltei a fita e assistimos ao <strong>que</strong> fora filma<strong>do</strong>. Ele<br />

ficou muito choca<strong>do</strong> ao ver-se na tela. Os olhos<br />

esbugalharam, o <strong>que</strong>ixo caiu e ele murmurou:<br />

”Caramba!”. E depois: ”Eles têm razão, eu estou<br />

inclina<strong>do</strong> para <strong>um</strong> la<strong>do</strong>. Vejo isso claramente, mas não<br />

tenho essa sensação, não sinto isso”.<br />

”Aí <strong>é</strong> <strong>que</strong> está”, falei. ”Essa <strong>é</strong> a raiz <strong>do</strong> problema”.<br />

Possuímos cinco senti<strong>do</strong>s <strong>que</strong> desfrutamos e <strong>que</strong><br />

reconhecemos e celebramos, senti<strong>do</strong>s <strong>que</strong> constituem o<br />

mun<strong>do</strong> sensível para nós. Mas existem outros senti<strong>do</strong>s<br />

— senti<strong>do</strong>s secretos, sextos senti<strong>do</strong>s, se preferir —<br />

igualmente vitais, mas não reconheci<strong>do</strong>s, não<br />

enalteci<strong>do</strong>s. Esses senti<strong>do</strong>s, inconscientes,<br />

automáticos, tiveram de ser descobertos.<br />

Historicamente, de fato, sua descoberta foi tardia: o<br />

<strong>que</strong> os vitorianos denominavam vagamente ”senti<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong>s músculos” — a percepção da posição relativa <strong>do</strong><br />

tronco e membros, derivada <strong>do</strong>s receptores nas<br />

articulações e tendões — só foi realmente defini<strong>do</strong> (e<br />

batiza<strong>do</strong> de ”propriocepção”) na d<strong>é</strong>cada de 1890. E os<br />

complexos mecanismos e controles pelos quais nosso<br />

corpo se mant<strong>é</strong>m adequadamente alinha<strong>do</strong> e

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!