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Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa

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desapareceu <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, ficou perdi<strong>do</strong> para o<br />

acompanhamento não apenas m<strong>é</strong>dico, mas geral, e<br />

poderia ter se perdi<strong>do</strong> para sempre, confina<strong>do</strong> e em<br />

convulsões em seu quarto no porão, se não houvesse<br />

”explodi<strong>do</strong>” em violência recentemente e si<strong>do</strong> leva<strong>do</strong><br />

ao hospital pela primeira vez. Ele não estivera<br />

inteiramente destituí<strong>do</strong> de vida interior no porão.<br />

Mostrava paixão<br />

243<br />

por revistas ilustradas, em especial de história natural,<br />

<strong>do</strong> tipo National Geographic, e quan<strong>do</strong> podia, nos<br />

intervalos <strong>do</strong>s ata<strong>que</strong>s e imprecações, encontrava tocos<br />

de lápis e desenhava o <strong>que</strong> via.<br />

Esses desenhos eram talvez o único elo com o mun<strong>do</strong><br />

exterior, e especialmente com o mun<strong>do</strong> de animais e<br />

plantas, da natureza, <strong>que</strong> ele tanto amara quan<strong>do</strong><br />

criança, principalmente ao sair para desenhar com o<br />

pai. Isso, e apenas isso, lhe foi permiti<strong>do</strong> manter, sua<br />

única ligação restante com a realidade.<br />

Esse foi, portanto, o relato <strong>que</strong> recebi, ou melhor,<br />

<strong>que</strong> montei com base na ficha ou fichas de Jos<strong>é</strong>,<br />

<strong>do</strong>c<strong>um</strong>entos tão notáveis pelo <strong>que</strong> lhes faltava quanto<br />

pelo <strong>que</strong> continham — <strong>um</strong>a omissão <strong>do</strong>c<strong>um</strong>entan<strong>do</strong> <strong>um</strong><br />

”hiato” de quinze anos: de <strong>um</strong>a assistente social <strong>que</strong><br />

visitara a casa, interessara-se por ele mas nada pudera<br />

fazer, e tamb<strong>é</strong>m de seus pais, agora i<strong>do</strong>sos e <strong>do</strong>entes.<br />

Mas nada disso teria vin<strong>do</strong> à luz não fosse por <strong>um</strong><br />

súbito acesso de violência, sem precedentes e<br />

assusta<strong>do</strong>r — <strong>um</strong> ata<strong>que</strong> nos quais ele despedaçou<br />

objetos — e <strong>que</strong> o levou pela primeira vez a <strong>um</strong> hospital<br />

psiquiátrico.<br />

Não estava claro o <strong>que</strong> provocara essa fúria, se fora<br />

<strong>um</strong>a irrupção de violência epil<strong>é</strong>ptica (como se pode<br />

observar, em raras ocasiões, em ata<strong>que</strong>s muito graves<br />

<strong>do</strong> lobo temporal), ou se fora, nos termos simplistas de<br />

seu registro de internação, meramente <strong>um</strong>a ”psicose”,<br />

ou ainda se representava alg<strong>um</strong> derradeiro,<br />

desespera<strong>do</strong> pedi<strong>do</strong> de ajuda de <strong>um</strong>a alma torturada

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