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Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa

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ele o percebia, era aceito por ele com <strong>um</strong>a singular<br />

”despreocupação”. Certo dia, perguntei-lhe não sobre<br />

sua memória, mas sobre o mais simples e elementar de<br />

to<strong>do</strong>s os sentimentos:<br />

”Como se sente”?<br />

“Como me sinto”, ele repetiu, coçan<strong>do</strong> a cabeça.<br />

”Não posso dizer <strong>que</strong> me sinto <strong>do</strong>ente. Mas não posso<br />

dizer <strong>que</strong> me sinto bem. Não posso dizer <strong>que</strong> sinto<br />

coisa alg<strong>um</strong>a”.<br />

52<br />

”Você <strong>é</strong> infeliz?”, continuei.<br />

”Não posso dizer <strong>que</strong> sou.”<br />

”Sente prazer em viver?”<br />

”Não posso dizer <strong>que</strong> sinto...”<br />

Hesitei, recean<strong>do</strong> estar in<strong>do</strong> longe demais,<br />

desnudan<strong>do</strong> <strong>um</strong> homem at<strong>é</strong> revelar alg<strong>um</strong> desespero<br />

oculto, inconfessável, insuportável.<br />

”Você não sente prazer na vida”, repeti, meio<br />

vacilante. ”Então como se sente em relação à vida?”<br />

”Não posso dizer <strong>que</strong> sinto alg<strong>um</strong>a coisa”.<br />

”Mas você se sente vivo”?<br />

”Me sentir vivo? Não realmente. Não me sinto vivo já<br />

faz muito tempo”.<br />

Seu rosto mostrava <strong>um</strong>a expressão de infinita<br />

tristeza e resignação.<br />

Posteriormente, notan<strong>do</strong> sua aptidão nos jogos<br />

rápi<strong>do</strong>s e <strong>que</strong>bra-cabeças, o prazer <strong>que</strong> eles lhe davam<br />

e o poder <strong>que</strong> tinham de ”prendê-lo” enquanto<br />

duravam, e tamb<strong>é</strong>m para proporcionar por alguns<br />

momentos <strong>um</strong> senso de companheirismo e competição<br />

— Jimmie não se <strong>que</strong>ixara de solidão, mas parecia<br />

muito solitário; nunca expressava tristeza, mas parecia<br />

imensamente triste —, sugeri <strong>que</strong> ele fosse leva<strong>do</strong> para<br />

nossos programas de recreação no asilo. Isto funcionou<br />

melhor — melhor <strong>do</strong> <strong>que</strong> o diário. Ele se absorvia<br />

brevemente nos jogos, mas logo estes deixavam de<br />

oferecer-lhe desafios; ele resolvia to<strong>do</strong>s os <strong>que</strong>bracabeças,<br />

e com facilidade, e era muito mais habili<strong>do</strong>so e

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