19.04.2013 Views

Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa

Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa

Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

eram, de fato, tão inativas, inertes, inúteis quanto<br />

”montes de massa”.<br />

Isso <strong>é</strong> muito estranho pensei comigo. Como se pode<br />

explicar tu<strong>do</strong> isso? Não existe <strong>um</strong> ”d<strong>é</strong>ficit” sensorial<br />

acentua<strong>do</strong>. Suas mãos dão a impressão de ter potencial<br />

para ser mãos perfeitamente úteis e, no entanto, não<br />

são. Poderiam não funcionar, ser ”inúteis” por<strong>que</strong> ela<br />

nunca as usou? Será <strong>que</strong> ter si<strong>do</strong> ”protegida”,<br />

”vigiada”, ”pajeada” desde o nascimento impediu-a de<br />

fazer o uso exploratório normal das mãos <strong>que</strong> to<strong>do</strong>s<br />

bebês aprendem nos primeiros meses de vida? Será<br />

<strong>que</strong> ela foi carregada de <strong>um</strong> la<strong>do</strong> para outro, com tu<strong>do</strong><br />

sen<strong>do</strong> feito para ela, de <strong>um</strong> mo<strong>do</strong> <strong>que</strong> a impediu de<br />

desenvolver mãos normais? E se isso fosse verdade—<br />

parecia muito improvável, mas era a única hipótese <strong>que</strong><br />

eu conseguia conceber — será <strong>que</strong> ela poderia agora,<br />

com sessenta anos, adquirir o <strong>que</strong> deveria ter adquiri<strong>do</strong><br />

nas primeiras semanas e meses de vida?<br />

Haveria alg<strong>um</strong> precedente? Algo assim já teria si<strong>do</strong><br />

descrito — ou tenta<strong>do</strong>? Eu não sabia, mas pensei de<br />

imediato em <strong>um</strong> possível paralelo o <strong>que</strong> foi descrito por<br />

Leont’ev e Zaporozhets em seu <strong>livro</strong> Rehabilitation of<br />

hand function (tradução inglesa de 1960). O problema<br />

<strong>que</strong> eles estavam descreven<strong>do</strong> tinha <strong>um</strong>a origem muito<br />

diferente: eles descreviam <strong>um</strong>a ”alienação” semelhante<br />

das mãos em cerca de duzentos solda<strong>do</strong>s após dano<br />

grave e cirurgia-as mãos feridas pareciam ”estranhas”,<br />

”sem vida”, ”inúteis”, ”grudadas”, apesar de em termos<br />

neorológicos e sensoriais estarem basicamente intactas<br />

Leont’ev e Zaporozhets afirmavam <strong>que</strong> os ”sistemas<br />

gnósticos”, <strong>que</strong> permitiam á ocorrência da ”gnose” ou<br />

uso perceptivo das mãos, podiam ser ”dissocia<strong>do</strong>s” em<br />

casos assim em conseqüência de lesão, cirurgia e <strong>do</strong>s<br />

hiatos de semanas ou meses <strong>que</strong> se seguiam. No caso<br />

de Madeleine embora o fenômeno fosse idêntico:<br />

”inutilidade”, ”falta de vida”, ”alienação”, ele tinha a<br />

duração de toda <strong>um</strong>a vida.<br />

77

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!