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Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa

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de recordações e alusões sexuais remotas. A paciente<br />

pediu <strong>um</strong> grava<strong>do</strong>r e, no decorrer de alguns dias,<br />

gravou inúmeras canções devassas, piadas e poemas<br />

”indecentes”, to<strong>do</strong>s deriva<strong>do</strong>s de conversas de festas,<br />

revistas ”pornográficas”, boates e musíc-halls da<br />

segunda metade da d<strong>é</strong>cada de 20. Esses recitais eram<br />

anima<strong>do</strong>s por repetidas alusões a eventos ocorri<strong>do</strong>s<br />

na<strong>que</strong>la <strong>é</strong>poca e pelo emprego de coloquialismos,<br />

entonações e maneirismos sociais obsoletos <strong>que</strong><br />

evocavam irresistivelmente a era das ”melindrosas”.<br />

Ningu<strong>é</strong>m se mostrou mais surpreso <strong>do</strong> <strong>que</strong> a própria<br />

paciente: ”E espantoso!”, ela comentou. ”Não consigo<br />

entender. Faz mais de quarenta anos <strong>que</strong> não ouço<br />

essas coisas nem penso nelas. Eu nem sabia <strong>que</strong> ainda<br />

as sabia. Mas agora elas não param de me passar pela<br />

cabeça”. O a<strong>um</strong>ento da excitação tornou necessária a<br />

redução da levo<strong>do</strong>pa, e com isso a paciente, embora<br />

permanecesse com a capacidade de expressar-se com<br />

clareza e coerência, ”es<strong>que</strong>ceu” instantaneamente<br />

todas a<strong>que</strong>las recordações remotas e nunca mais foi<br />

capaz de lembrar-se de <strong>um</strong> único verso das músicas<br />

<strong>que</strong> gravara. A reminiscência forçada — em geral<br />

associada a <strong>um</strong>a sensação de d<strong>é</strong>jà vu, e (no termo<br />

jacksoniano) à ”duplicação de consciência”—ocorre<br />

com muita freqüência em ata<strong>que</strong>s de enxa<strong>que</strong>ca e<br />

epilepsia, em esta<strong>do</strong>s hipnóticos e psicóticos e, menos<br />

notavelmente, com todas as pessoas, em resposta ao<br />

poderoso estímulo mnemónico de determinadas<br />

palavras, sons, cenas e em especial o<strong>do</strong>res. Surtos<br />

repentinos de lembranças foram menciona<strong>do</strong>s no<br />

contexto de crises oculógiras, como em <strong>um</strong> caso<br />

descrito por Zutt no qual ”milhares de lembranças<br />

subitamente amontoaram-se na mente <strong>do</strong> paciente”.<br />

Penfield e Perot conseguiram evocar recordações<br />

estereotipadas estimulan<strong>do</strong> pontos epileptogênicos <strong>do</strong><br />

córtex, e inferiram <strong>que</strong> ata<strong>que</strong>s de ocorrência natural<br />

ou induzi<strong>do</strong>s artificialmente em tais pacientes ativam<br />

”seqüências de memória fossilizadas” no c<strong>é</strong>rebro.

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