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Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa

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em a despeito de seu reduzi<strong>do</strong> QI, ela fitou o tapete<br />

<strong>do</strong> consultório e disse: ”Sou <strong>um</strong>a esp<strong>é</strong>cie de tapete<br />

vivo. Preciso de <strong>um</strong> padrão, de <strong>um</strong> desenho, como esse<br />

<strong>que</strong> você vê no tapete. Eu me desmancho, me desfaço<br />

se não houver <strong>um</strong> desenho”. Olhei para o tapete ao<br />

ouvir Rebecca, e me peguei pensan<strong>do</strong> na famosa<br />

imagem de Sherrington <strong>que</strong> compara a mente/c<strong>é</strong>rebro<br />

com <strong>um</strong> ”tear encanta<strong>do</strong>”, tecen<strong>do</strong> padrões <strong>que</strong> sempre<br />

se desmancham, mas sempre têm <strong>um</strong> significa<strong>do</strong>.<br />

Pensei: <strong>é</strong> possível ter <strong>um</strong> tapete sem <strong>um</strong> desenho?<br />

Pode-se ter o desenho sem o tapete (mas isso era como<br />

ter o sorriso sem o Gato de Alice)? Um tapete ”vivo”,<br />

como era Rebecca, precisava ter ambos — e ela<br />

especialmente, não dispon<strong>do</strong> de estrutura es<strong>que</strong>mática<br />

(a urdidura e a trama, o entrelaçamento <strong>do</strong> tapete, por<br />

assim dizer), podia realmente se desmanchar sem <strong>um</strong><br />

desenho (a estrutura cênica ou narrativa <strong>do</strong> tapete).<br />

”Eu preciso ter significa<strong>do</strong>”, ela prosseguiu. ”As<br />

aulas, as tarefas eventuais não têm significa<strong>do</strong>... Eu<br />

gosto mesmo <strong>é</strong> de teatro”, ela acrescentou, suplicante.<br />

Tiramos Rebecca <strong>do</strong>s workshops <strong>que</strong> ela detestava e<br />

demos <strong>um</strong> jeito de inscrevê-la em <strong>um</strong> grupo teatral<br />

especial. Ela a<strong>do</strong>rou — isso lhe deu coesão; ela se saiu<br />

espantosamente bem: tornou-se <strong>um</strong>a pessoa completa,<br />

equilibrada, fluente, com estilo, em cada papel. E<br />

agora, <strong>que</strong>m vê Rebecca no palco, pois o teatro e o<br />

grupo teatral logo se tornaram sua vida, nunca<br />

imaginaria <strong>que</strong> ela era deficiente mental.<br />

PÓS-ESCRITO<br />

O poder da música, narrativa e drama tem enorme<br />

importância prática e teórica. Pode-se perceber isso at<strong>é</strong><br />

mesmo no caso <strong>do</strong>s idiotas, com QI abaixo de vinte e<br />

extrema incapacidade e confusão motora. Seus<br />

movimentos desajeita<strong>do</strong>s podem desaparecer n<strong>um</strong><br />

instante<br />

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