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Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa

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certamente as melodias, são de fato ”rostos” para os<br />

ouvi<strong>do</strong>s e são reconheci<strong>do</strong>s, senti<strong>do</strong>s, imediatamente<br />

como ”pessoas” (ou como ten<strong>do</strong> ”qualidade de<br />

pessoa”), <strong>um</strong> reconhecimento <strong>que</strong> implica afeto,<br />

emoção, relação pessoal.<br />

Isso parece ocorrer com os <strong>que</strong> amam os números.<br />

Estes tamb<strong>é</strong>m se tornam reconhecíveis como tais — em<br />

<strong>um</strong> único, intuitivo, pessoal: ”Eu conheço você!”.* O<br />

matemático Wim Klein expressou isso muito bem: ”Os<br />

números são amigos para mim, mais ou menos. Para<br />

você, 3844 não significa o mesmo, não <strong>é</strong>? Para você, <strong>é</strong><br />

apenas <strong>um</strong> três, <strong>um</strong> oito, <strong>um</strong> quatro e outro quatro. Mas<br />

eu digo: ’Olá, 62 ao quadra<strong>do</strong>!’”.<br />

Acredito <strong>que</strong> os gêmeos, aparentemente tão<br />

isola<strong>do</strong>s, vivem n<strong>um</strong> mun<strong>do</strong> cheio de amigos, ten<strong>do</strong><br />

milhões, bilhões de números aos quais dizem ”Olá!” e<br />

<strong>que</strong>, tenho certeza, respondem ”Olá!” para eles. Mas<br />

nenh<strong>um</strong> <strong>do</strong>s números <strong>é</strong> arbitrário — como 62 ao<br />

quadra<strong>do</strong> — nem (e este <strong>é</strong> o mist<strong>é</strong>rio) se chega a ele<br />

por alg<strong>um</strong> <strong>do</strong>s m<strong>é</strong>to<strong>do</strong>s usuais, ou por qual<strong>que</strong>r m<strong>é</strong>to<strong>do</strong><br />

<strong>que</strong> eu consiga discernir. Os gêmeos parecem empregar<br />

<strong>um</strong>a cognição direta — como anjos. Eles vêem,<br />

diretamente, <strong>um</strong> universo e <strong>um</strong> c<strong>é</strong>u de números. E isso,<br />

embora singular, embora bizarro — mas <strong>que</strong> direito<br />

temos de chamá-lo<br />

NR<br />

* Problemas particularmente fascinantes e<br />

fundamentais originam-se da percepção e<br />

reconhecimento de rostos—pois há muitas evidências<br />

de <strong>que</strong> reconhecemos rostos (ou pelo menos rostos<br />

familiares) diretamente, e não por <strong>um</strong> processo de<br />

análise ou agregação gradativa. Isso, como já vimos,<br />

salienta-se de maneira notável na ”prosopagnosia”, na<br />

qual, em conseqüência de <strong>um</strong>a lesão no córtex occipital<br />

direito, os pacientes tornam-se incapazes de<br />

reconhecer os rostos como tais, precisan<strong>do</strong> empregar<br />

<strong>um</strong> m<strong>é</strong>to<strong>do</strong> complexo, absur<strong>do</strong> e indireto <strong>que</strong> envolve

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