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Orelha do livro Oliver Sacks é um neurologista que reivindica ... - Stoa

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nenh<strong>um</strong>a dificuldade para me derrotar<br />

estron<strong>do</strong>samente.<br />

Luria afirmou <strong>que</strong> Zazetsky perdera por completo sua<br />

capacidade de jogar, mas <strong>que</strong> sua ”imaginação vivida”<br />

estava intacta. Zazetsky e o dr. P. viviam em mun<strong>do</strong>s<br />

<strong>que</strong> eram reflexos no espelho <strong>um</strong> <strong>do</strong> outro. Mas a<br />

diferença mais triste entre eles estava em <strong>que</strong><br />

Zazetsky, como explicou Luria, ”lutava para recuperar<br />

suas faculdades perdidas com a tenacidade indômita<br />

<strong>do</strong>s desgraça<strong>do</strong>s”, ao passo <strong>que</strong> o dr. P. não estava<br />

lutan<strong>do</strong>, não sabia o <strong>que</strong> fora perdi<strong>do</strong> e, de fato, não<br />

sabia <strong>que</strong> alg<strong>um</strong>a coisa se perdera. Mas o <strong>que</strong> era mais<br />

trágico, ou <strong>que</strong>m era mais desgraça<strong>do</strong>: o homem <strong>que</strong><br />

sabia ou o <strong>que</strong> não sabia?<br />

Quan<strong>do</strong> o exame terminou, a Srª. P. nos chamou para<br />

a mesa, onde havia caf<strong>é</strong> e <strong>um</strong>a deliciosa profusão de<br />

pedaços de bolo. Faminto, cantarolan<strong>do</strong>, o dr. P. atirouse<br />

aos bolos. Com rapidez e fluência, sem pensar,<br />

melodiosamente, ele puxava os pratos para si e se<br />

servia deste e da<strong>que</strong>le n<strong>um</strong>a grande torrente<br />

gorgolejante, <strong>um</strong>a canção comestível, at<strong>é</strong> <strong>que</strong>,<br />

subitamente, houve <strong>um</strong>a interrupção: <strong>um</strong> alto e<br />

peremptório toc-toc-toc à porta. Sobressalta<strong>do</strong>,<br />

confuso, paralisa<strong>do</strong> pela interrupção, o dr. P. parou de<br />

comer e <strong>que</strong><strong>do</strong>u-se<br />

NR<br />

• Muitas vezes refleti a respeito das descrições<br />

visuais de Helen Keller, a despeito de toda a<br />

sua eloqüência, seriam elas tamb<strong>é</strong>m, de<br />

alg<strong>um</strong>a forma, vazias? Ou será <strong>que</strong>, pela<br />

transferência de imagens <strong>do</strong> táctil para o<br />

visual ou, ainda mais extraordinariamente, <strong>do</strong><br />

verbal e metafórico para o sensorial e visual,<br />

ela realmente conseguia a capacidade de ter<br />

imagens visuais, muito embora seu córtex<br />

visual jamais houvesse si<strong>do</strong> estimula<strong>do</strong><br />

diretamente pelos olhos? Mas, no caso <strong>do</strong> dr P,<br />

era precisamente o córtex <strong>que</strong> fora danifica<strong>do</strong>,

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