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CRÍTICA DE CINEMA EM O TEMPO – 1954 - Bresser Pereira

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<strong>DE</strong>US, MORAL E ÚLTIMA FELICIDA<strong>DE</strong><br />

14.03.54<br />

“A arte em seu domínio próprio é soberana como a sabedoria; ela não é<br />

subordinada pelo seu objeto nem à sabedoria, nem à prudência (moral), nem a<br />

nenhuma outra virtude”. Transcrevemos essas palavras do livro de Jacques<br />

Maritain, “Art et Scolastique”, que traduz fielmente as idéias de S. Thomaz de<br />

Aquino. A obra de arte, portanto, enquanto obra de arte é independente da<br />

moral, e da vida humana tendo sido por isto que em nossa crônica sobre<br />

“Última Felicidade” afirmávamos tratar-se de um grande filme, de uma<br />

película poética e maravilhosa.<br />

“Mas, continua o notável pensador católico, pelo sujeito e no sujeito ela<br />

está subordinada ao bem desse sujeito; enquanto ela se encontra no homem e a<br />

liberdade do homem faz uso dela, ela está subordinada ao fim do homem e às<br />

virtudes humanas”. E mais adiante podemos ler: Desviar-se da sabedoria e da<br />

contemplação e visar mais baixo do que Deus, é para uma civilização cristã a<br />

causa primeira de toda desordem.<br />

Há portanto para a arte, um bem, um fim, que, embora lhe seja<br />

extrínseco, é superior ao belo — é a verdade e a bondade, que se resumem em<br />

Deus. Conclui-se dai, que a obra de arte pode atingir um ideal de beleza,<br />

independentemente de sua moralidade, mas não poderá nas mesmas<br />

circunstâncias atingir um ideal de bondade e de verdade.<br />

É isto o que acontece com “Última Felicidade”. Fizemos estas<br />

rapidíssimas considerações a respeito das relações entre a arte, a moral e Deus,<br />

para que depois pudéssemos analisar o elemento humano desse filme<br />

extraordinário, com mais clareza.<br />

O valor moral da fita de Arne Mattson é bastante discutível. Sem que<br />

queríamos tomar ares moralistas, não há dúvida de que a maneira com que nela<br />

é encarado o amor não pode ser aceita por ninguém de bom senso. Mattson<br />

sustenta a tese de que o amor justifica tudo, confunde a caridade cristã com o<br />

amor humano e comete outros erros que são caros ao poetas, mas que em<br />

hipótese alguma revelam uma concepção cristã de vida.<br />

Além disso, a figura daquele pastor protestante dá ao filme um sentido<br />

bem nitidamente anticristão, embora se queira dizer o contrário. Não há dúvida<br />

que existem pastores e mesmo alguns padres com aquelas concepções<br />

estreitíssimas, com aquela preocupação horrível pelo castigo divino. Mas se

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