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CRÍTICA DE CINEMA EM O TEMPO – 1954 - Bresser Pereira

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ÁUSTRIA E ARGENTINA<br />

27.02.54<br />

No sábado à tarde o I Festival Internacional de Cinema do Brasil<br />

recebeu em suas sessões oficiais do cine Marrocos, uma rajada de ar fresco<br />

com o filme austríaco “Primeiro de Abril ano 2.000”. É uma película vienense<br />

em tudo. Alegre, movimentada, com muita música, operetas, canções,<br />

sentimentalismo, demagogia, tudo em uma mistura que acaba por tornar-se<br />

agradável. A fita pretende ser uma glorificação da Áustria e de um certo modo<br />

consegue atingir seu objetivo. Estamos no ano 2.000 e esse país ainda é<br />

dominado pelas quatro grandes potências. Em vista disso, o primeiro ministro<br />

austríaco resolve declarar a independência, o que leva os quatro representantes<br />

respectivamente da França, Inglaterra, Estados Unidos e Rússia a recorrer à<br />

União Global. A Áustria então vai ser julgada pelo seu atentado à paz. O juiz é<br />

uma mulher. O advogado, o primeiro ministro, que faz passar diante dos olhos<br />

a princípio terríveis, mas que aos poucos vão-se adoçando, da representante da<br />

União Global, o que há de belo na história da Áustria. No final tudo termina<br />

com um baile e o público sai feliz do cinema, depois de ter assistido a uma<br />

brincadeira agradável, que no fundo se constitui em apelo à volta à liberdade da<br />

Áustria. Esta foi a película mais aplaudida de quantas vimos até hoje no<br />

Festival. É verdade que haja uma espécie de claque, mas o público geralmente<br />

correspondia às palmas iniciadas pela claque, dado o sentido exuberante da fita.<br />

Se tentarmos fazer um julgamento crítico, não se pode dizer que se trata de um<br />

mau filme, embora também não estejamos diante de nenhum filme excepcional.<br />

O diretor Wolfang Liebeneiner é bastante fraco, o roteiro não tem grande valor<br />

cinematográfico, o filme está eivado de passagens piegas ou demagógicas.<br />

Trata-se, porém, de uma película realizada com muita espontaneidade, com<br />

alegria, com espírito crítico, e merece ser vista.<br />

À noite tivemos um filme argentino, “Maria Madalena”. Não foi uma<br />

decepção. Em sã consciência todos esperavam uma péssima película e foi o que<br />

tivemos. Apesar dos exteriores filmados na Bahia, a fita não tem nada que ver<br />

com o Brasil, a começar pelos interiores em que domina uma cenografia<br />

extravagante e nada funcional, até o argumento balofo e pretensamente<br />

simbólico. O que fizeram foi simplesmente modernizar o Novo Testamento,<br />

colocando em cena, ridiculamente, um Cristo, transformado em cientista, um<br />

Judas, que é seu assistente, e até um Pilatos, que a um certo momento lava as<br />

mãos em uma pia!<br />

Salvou a noite um documentário de Walt Disney da série Maravilhas da<br />

Natureza, “Water Birds” notável ao mostrar a vida dos pássaros aquáticos.

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