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CRÍTICA DE CINEMA EM O TEMPO – 1954 - Bresser Pereira

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O BRILHO DA FORMA<br />

27.08.54<br />

“Dois caipiras em Paris” veio mais uma vez provar que muitas vezes<br />

pudemos extrair grandes ensinamentos das coisas más. Caro leitor, imagine o<br />

filme mais imbecil possível, pense na comédia mais vulgar e sem graça que lhe<br />

for possível imaginar, e então, talvez, consiga ter uma idéia do que seja essa<br />

fita. É uma enormidade, mas a primeira coisa que devemos fazer é marcar bem<br />

o nome dos realizadores do filme, do diretor Charles Lamont e da dupla de<br />

atores Marjorie Main e Percy Kilbride, respectivamente, Ma e Pa Kettle. Além<br />

disso, esse filme confirma uma velha verdade, a de que na arte tudo depende da<br />

forma, falando-se especialmente do filme, da forma cinematográfica do roteiro,<br />

da direção, da música, da interpretação, da cenografia, da fotografia. As piadas<br />

de “Dois caipiras em Paris”, certamente, são fracas, mas algumas já foram<br />

usadas com grande êxito por outros cômicos. Lembramos por exemplo do<br />

momento em que Pa Kettle pensa que vários brotinhos franceses se engraçaram<br />

por ele e lhe fazem sinais. A um certo momento todas correm e, ao invés de se<br />

dirigirem para ele, vão rodear um rapaz que estava , na sua retaguarda. Está é<br />

uma piada clássica do cinema, usada pela primeira vez por Charles Chaplin, e<br />

no entanto, narrada no filme de Lamont nada quis dizer, não conseguiu um<br />

sorriso ao menos. E assim aconteceu com muitas outras anedotas, batidas, não<br />

há dúvida, mas que se fossem contadas como se deve, certamente provocariam<br />

muito riso. Em “Dois caipiras em Paris”, no entanto, a forma cinematográfica<br />

do filme é tão ruim, tão falha, que só consegue irritar o espectador. Ficou,<br />

portanto, mais uma vez comprovado que o belo é simplesmente o brilho da<br />

forma, que transfigura a matéria.<br />

As informações que temos sobre o cinema japonês são escassas e<br />

difíceis de se conseguir. Resulta disso que quase nada sabemos a respeito das<br />

fitas exibidas no cine Niterói, aonde pouco vamos. Entretanto, podemos dizer<br />

com segurança. aos nossos leitores, que esta nossa atitude não se justifica. O<br />

cinema japonês da atualidade é de alta qualidade, o cine Niterói é novo e o fato<br />

de os atores e realizadores dos filmes serem de outra raça não nos impede de<br />

apreciarmos suas realizações. Além disso (e fique bem claro ao leitor que não<br />

há nenhum intuito de propaganda aqui, a não ser da propaganda gratuita que<br />

merecem as boas coisas), nas diversas vezes que fomos ao cine Niterói e ao<br />

São Francisco (que também costuma exibir películas japonesas) apenas uma ou<br />

duas vezes nos decepcionamos realmente, embora fossemos para o cinema<br />

geralmente sem nenhuma referência sobre a fita. Pensamos, portanto, que<br />

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