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CRÍTICA DE CINEMA EM O TEMPO – 1954 - Bresser Pereira

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O RIO DAS ALMAS PERDIDAS<br />

24.09.54<br />

(“River of no return”). EUA. 54. Direção de Otto Preminger. Produção de Stanley<br />

Rubin, em cinemascopio, para a Fox. Roteiro de Frank Fenton. História de Louis<br />

Lantz. Música de Cyril Mockridge. Fotografia em tecnicolor de Joseph La Shelle.<br />

Elenco: Robert Mitchun, Marilyn Monroe, Rory Calhoun, Tommy Rettig e outros.<br />

Em exibição no Republica e Plaza.<br />

Cot.: Fraco No gênero “western”: Mau<br />

“O rio das almas perdidas” é um filme malogrado. Embora “western”,<br />

trata-se da primeira película quase sem nenhuma ação, em cinemascopio, e<br />

agora gostaríamos de saber o que estão pensando os apologistas desse<br />

lamentável sistema. Porque, se há algum culpado da mediocridade, do tom<br />

enfadonho e cansativo desse filme, que fez o próprio público considerá-lo<br />

“mau” é o cinemascopio. Quando da primeira apresentação do processo do<br />

prof. Chretien em São Paulo, embora esperando confirmação, dissemos que o<br />

cinemascopio seria de um modo geral, pernicioso, dando um golpe fundo na<br />

montagem cinematográfica. Os filmes de muita ação, de grandes massas,<br />

grandiosos poderiam salvar-se e mesmo em alguns momentos valorizar-se com<br />

a novidade, que daria maior amplidão e profundidade ao quadro. Os filmes de<br />

ação interior, porém, os filmes intimistas, de base dramática e humana, a<br />

grande maioria das películas de real valor seriam fundamentalmente<br />

prejudicadas. Não nos enganávamos. “River of no return” confirmou-o<br />

plenamente, embora ainda tivessem auxiliado o cinemascopio os grandiosos<br />

cenários naturais.<br />

E ninguém dirá que a culpa disso cabe aos rea1izadores do filme. Em sã<br />

consciência qualquer um que conheça um pouco de cinema reconhecê-lo-á. É<br />

claro que não diremos que o cenarista Frank Fenton ou o diretor Otto<br />

Preminger sejam excepcionais. O primeiro não tem acertado muitas vezes. O<br />

cenário escrito por ele para “O rio das almas perdidas’’, todavia, é correto.<br />

Fenton tinha uma boa história para contar, relacionada com a febre do ouro e<br />

uma viagem de jangada por um rio violento e cheio de corredeiras, e soube-o<br />

fazê-lo razoavelmente. Seu roteiro é perfeitamente lógico, conseqüente, um e<br />

possui curva dramática. Os personagens, embora algo estilizados, não deixam<br />

de ter seu valor. As situações que criou, têm certamente conteúdo humano.<br />

Cabia a Otto Preminger aproveitá-lo. E sabemos que o realizador de<br />

“Laura” saberia fazê-lo. Embora sem um talento excepcional. Preminger é um<br />

cineasta sensível e não ignora completamente os recursos da linguagem<br />

cinematográfica. “Passos na noite”, “Anjo do mal”, “O leque” “Ingênua até<br />

certo ponto” estão ai para prová-lo. O roteiro exigia da direção um ritmo lento,<br />

mas cheio de densidade dramática. Seria preciso, portanto, que Preminger<br />

colocasse em jogo toda a sua capacidade de diretor. As objetivas do<br />

cinemascopio, porém, obrigaram-no simplesmente a filmar a ação de longe,

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