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CRÍTICA DE CINEMA EM O TEMPO – 1954 - Bresser Pereira

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POUCA DIFERENÇA<br />

13.02.54<br />

Provavelmente o leitor já deve ter notado que temos feito restrições às<br />

possibilidades artísticas dos filmes que estão sendo exibidos no I Festival<br />

Internacional de Cinema do Brasil. Com isso, porém, não queremos<br />

menosprezar essa festividade. Apenas, no nosso trabalho de crítico, devemos<br />

esclarecer os nossos leitores. Nos outros festivais, inclusive Cannes e Veneza,<br />

sucede quase a mesma coisa. Vamos transcrever aqui algumas considerações<br />

do crítico oficial da revista italiana “Cinema”, Julio Cesare Castello, sobre o<br />

último festival de Cannes, para que os nossos leitores tenham uma confirmação<br />

do que afirmamos e então possam encarar o nosso festival com mais senso da<br />

realidade.<br />

“Certa experiência acumulada quanto a festivais cinematográficos, e<br />

julgamento tanto quanto possível objetivo dos panoramas nacionais de<br />

produção, ensinaram-me, há anos, a entrar em contato com as obras de uma<br />

mostra encouraçado por princípios de incrível relativismo. É inútil perguntar-se<br />

hoje quantas obras apresentadas em Veneza ou em Cannes, em tal ou tal ano,<br />

estão destinada a sobreviver, suponhamos, a cinqüenta anos de história do<br />

cinema e da humanidade: certamente nenhuma delas oferece títulos suficientes<br />

para que possa abrir-lhe tal crédito. O cinema, hoje, é aquele que é, e não o das<br />

ocasiões oficiais, representadas pelos festivais: por um “Luzes da Ribalta”,<br />

quantas mistificações, quantas experiências estéreis, quanto rebaixamento aos<br />

mais superficiais gostos populares. É melhor, portanto, partir para um festival<br />

proibido de uma bagagem, não digo de indulgência culpável, mas de faculdade<br />

discriminadora. Pretender, firmemente, a exclusão de obras que não atingem<br />

nem mesmo ao nível da honestidade, da decência, da maturidade mínima<br />

indispensável para poder entrar em uma competição internacional, dessas obras<br />

que inutilmente lotam os programas, em detrimento de um mais repousado<br />

exame das outras mais merecedoras, é perda de tempo. E depois, a única coisa<br />

a fazer é acolher as boas intenções, saudar com satisfação as tentativas dignas<br />

de alguns, e contentar-se com uma característica expressão deste ou daquele<br />

espírito nacional. O tempo de enraivecer-se já passou; agora sabemos as coisas<br />

como estão e apreciamos as tentativas generosas para reduzir ao mínimo os<br />

danos, comprimindo, como fará este ano Veneza, o período de projeções”.<br />

Eis a opinião de um crítico experimentado a respeito de festivais. Não<br />

nos iludamos, pois, embora continuemos a desejar que o nosso se constitua um<br />

grande êxito, podendo repetir-se futuramente. Ao menos as “Jornadas<br />

Nacionais” é preciso que continuem através dos anos.

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