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CRÍTICA DE CINEMA EM O TEMPO – 1954 - Bresser Pereira

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GÊNERO ULTRAPASSADO<br />

02.06.54<br />

Foi exibido na mesma semana passada, em São Paulo, um filme norteamericano<br />

de 1945, “O amanhã é eterno”, dirigido por Irving Pichel, com<br />

roteiro de Lenore Coffer e tendo nos principais papeis Claudette Colbert, Orson<br />

Welles e George Brent. Naturalmente não vamos fazer uma análise dessa fita,<br />

pois não só se trata de uma reprise, como também não apresenta nenhum valor<br />

especial. Entretanto, não podemos passar sem algumas considerações, depois<br />

de termos visto agora o filme, nove anos depois de sua realização.<br />

“O amanhã é eterno” é um filme evidentemente ultrapassado, pelo<br />

menos para o cinema norte-americano. Pertence a um gênero melodramático,<br />

atualmente muito raro de encontrar-se em fitas realizadas em Hollywood.<br />

Podemos assistir dessa ordem originários do México, da Itália, da Argentina, da<br />

Inglaterra mesmo e de muitos outros países, mas dificilmente eles são<br />

provenientes dos Estados Unidos. Lá o dramalhão está completamente fora de<br />

moda, e os melodramas, quando apresentados, mantêm sempre uma certa linha.<br />

Veja-se, por exemplo, “Eu te matarei querida”, exibido em São Paulo no ano<br />

passado. Há dez, quinze, vinte anos atrás, em Hollywood produzia filmes<br />

piegas em profusão. Agora eles tornaram-se raros, cedendo lugar às<br />

superproduções bíblicas, aos “westers”, aos policiais etc...<br />

Esse fato, indiscutivelmente, é promissor. Indica especialmente uma<br />

melhoria de gosto do público, em fusão do qual age Hollywood. Esse público,<br />

porém, não é o brasileiro. Este aprecia os dramalhões do tipo de “Os filhos de<br />

ninguém”, “A louca”, “Mulher tentada” e outras monstruosidades do gênero. É<br />

que o público norte-americano, pelo que podemos deduzir, não aceita mais fitas<br />

dessa ordem, obrigando os produtores de cinema a explorar outros gêneros.<br />

Entretanto, esse fato não nos permite grande otimismo. É um<br />

acontecimento isolado, que não deve dar oportunidade a belas ilusões. O fato<br />

concreto é que a grande maioria dos filmes realizados, tanto em Hollywood<br />

como em todos os demais países do mundo, é de má qualidade, em face do mau<br />

gosto do público e por causa de incompetência dos realizadores, que<br />

transformaram o cinema em uma indústria como qualquer outra. O gosto do<br />

público norte-americano pode ter-se apurado um pouco. Mas não continuam os<br />

americanos a apreciar os filmes de Cecil B. De Mille, os musicais vazios, as<br />

comediazinhas estereotipadas, os filmes de aventura em tecnicolor e toda essa<br />

série de películas, que semanalmente atraem multidões aos cinemas? Sim, não<br />

há dúvida, a situação nos permite ser otimistas, ainda mais quando o cinema se

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