09.05.2013 Views

CRÍTICA DE CINEMA EM O TEMPO – 1954 - Bresser Pereira

CRÍTICA DE CINEMA EM O TEMPO – 1954 - Bresser Pereira

CRÍTICA DE CINEMA EM O TEMPO – 1954 - Bresser Pereira

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

<strong>DE</strong>SEJO HUMANO<br />

04.12.54<br />

(“Human desire”). EUA. 54. Direção de Fritz Lang. Roteiro de Alfred Hayes,<br />

baseado no romance “La bete humaine”, de Emile Zola, da serio Rougon<br />

Macquart. Produção de Lewis J. Rachimill. Fotografia de Burnett Guffey. Música<br />

de Damnielle Amphiteatroff. Elenco: Glenn Fora, Gloria Grahme, Broderick<br />

Crawfvrd, Jack Buchanan e outros. Produção e distribuição da Columbia. Em<br />

exibição no Art-Palacio e circuito.<br />

Cot.: Bom Caract.: Dramático<br />

“Human desire” baseia-se em famoso romance de Emilo Zola, “La bete<br />

humaine”, sobre o qual Jean Renoir, em 1938, realizou um filme notável, com<br />

Jean Gabin, Simone Simon e Fernando Ledoux. Entretanto, como aconteceu<br />

anteriormente com “Obsessão”, que em Hollywood tomou o nome de “O<br />

destino bate à porta” e com “Le corbeau”, levado à tela nos Estados Unidos sob<br />

o nome de “cartas venenosas”, a versão norte-americana de “La béte humaíne”<br />

não atingiu o nível da realização européia. Entretanto, por ter sido realizado por<br />

um cineasta da estatura de Fritz Lang, “Desejo humano” não se perdeu<br />

totalmente, como aconteceu com os outros filmes; mas falta-lhe a autenticidade<br />

e o vigor da fita de Renoir.<br />

Não somos dos que atacam por princípio e profissão o cinema norteamericano.<br />

Somos mesmo seus admiradores. Isto, porém, não nos faz esquecer<br />

seus lamentáveis defeitos, o principal dos quais se revela nesta película.<br />

infelizmente, temos que afirmar que “Desejo humano” não deveria ter sido<br />

realizado em Hollywood. Zola era um escritor naturalista; “La bête humaine”<br />

faz parte da seria “Rougon Macquart”, a qual ele marcou com toda a força do<br />

seu realismo positivista e eivado de pessimismo. Ora, a censura e o<br />

convencionalismo de Hollywood não permitem a existência de tais<br />

características em um filme. Assim, com pequenas modificações, dando maior<br />

importância à figura da filha do companheiro de Warren, reduzido a<br />

apresentação das relações deste com Kitty, usando de uma fotografia com<br />

iluminação bonita, mas sem nenhum tom realista, e com outras medidas do<br />

gênero, Alfred Hayes e Fritz Lang (que realizaram juntos “Só a mulher peca”),<br />

evidentemente cercados pelo produtor, roubaram ao filme — roubaram à<br />

história de Zola — a sua maior e mais profunda base dramática. Porque é<br />

preciso que fique claro o seguinte: nada obsta que um cineasta, na adaptação de<br />

uma obra literária, lhe mude o espírito, contanto que o outro também seja<br />

válido, possuindo conteúdo humano, poético e dramático à altura. Em “Desejo<br />

humano”, porém, isto não sucedeu. O espírito da obra de Zola foi subvertido,

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!