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CRÍTICA DE CINEMA EM O TEMPO – 1954 - Bresser Pereira

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SOBRE <strong>DE</strong> SICA<br />

02.10.54<br />

Está em exibição no cine Bandeirantes uma das obras-primas do cinema<br />

moderno e de todos os tempos, “Humberto D”, de Vittorio De Sica. Já falamos<br />

longamente sobre esse filme (nunca escrevemos tantas crônicas sobre uma<br />

película, como para essa) quando de sua exibição no Festival do Cinema<br />

Italiano. Todavia, agora que ela é novamente apresentada em nossas telas, não<br />

queremos deixar sua passagem em branco. Transcrevemos pois trechos de um<br />

artigo que o excelente critico francês, Andrá Bazin, escreveu sobre De Sica.<br />

“Somos imperiosamente conduzidos a definir De Sica no princípio<br />

mesmo de sua arte, que é de ternura e de amor. O que há de comum em<br />

“Milagre de Milão”, “Ladrões de bicicleta” e “Humberto D”, a despeito das<br />

oposições mais aparentes do que reais, que seria muito fácil enumerar, é a<br />

inesgotável amizade do autor por suas personagens”. E depois de afirmar,<br />

dando exemplos, que De Sica compreende todos os seus tipos e nunca os torna<br />

realmente antipáticos, afirma. “A amizade que De Sica dispensa a suas<br />

criaturas não tem nada de dominadora ou ameaçante; ela é uma gentileza cortês<br />

e discreta, uma generosidade liberal e que não exige nada em troca. A ternura<br />

de De Sica é de uma qualidade absolutamente particular e que resiste por isso<br />

mesmo às generalizações morais, religiosas, ou políticas, mais ainda do que<br />

para isso ela se presta.” E méis adiante: “... a gentileza napolitana de De Sica se<br />

torna, pela virtude do cinema, a mais vasta mensagem de amor que nosso<br />

tempo teve a fortuna de escutar, desde Charles Chaplin”. “Ela lhe assegurava<br />

ao mesmo tempo universalidade e autenticidade”. E foi baseando-se nesse<br />

amor que em nossas crônicas sobre “Humberto D” falamos do profundo<br />

espírito cristão, que consciente ou inconscientemente está no fundamento da<br />

obra de Vittorio De Sica.<br />

Mas continuemos a transcrever trechos do artigo de Bazin: “Eu falei de<br />

amor; poderia com a mesma propriedade falar de poesia? As duas palavras em<br />

De Sica são sinônimos ou, ao menos, complementares. A poesia não é senão a<br />

forma ativa, criadora do amor, sua projeção sobre o universo. Por mais<br />

alucinada, varrida pela desordem social, que seja a infância de “Sciuscià”, ela<br />

possui ainda o poder de transformar em sonho sua miséria”. E termina:<br />

“Zavattini (o roteirista de De Sica) me disse: eu sou como o pintor diante de<br />

um campo e que se pergunta por qual pedaço de vegetação deve começar. De<br />

Sica é o realizador ideal dessa profissão de fé”. “No cinema é preciso, para<br />

haver a criação do amor, de De Sica”.

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