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CRÍTICA DE CINEMA EM O TEMPO – 1954 - Bresser Pereira

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<strong>DE</strong>SEJO ATROZ<br />

14.09.54<br />

(“All I Desire”). EUA. 53. Direção de Douglas Sirk. Roteiro de James Gunn e<br />

Robert Blees, baseado em uma novela. Música de George Gersheson. Fotografia<br />

de Robert Guthrie. Produção de Ross Hunter. Elenco: Bárbara Stanwick, Richard<br />

Carlson, Lori Nelson, Maureen O’Sullivan, Lyle Bettger e outros. Produção e<br />

distribuição da Universal. Em exibição no Ritz e circuito.<br />

Cot.: Regular No gênero drama: Idem<br />

“Desejo atroz” é um típico melodrama norte-americano, superficial e<br />

algo pretensioso, mas que não se deixa envolver totalmente pelo<br />

sentimentalismo barato. Conserva sempre certa dignidade, devida<br />

especialmente ao diretor Douglas Sirk e ao desempenho do elenco,<br />

sobressaindo-se a notável Bárbara Stanwick.<br />

Na história reside a maior falha do filme, embora oferecesse numerosas<br />

oportunidades a um bom roteirista, caso este procurasse criar algo novo,<br />

partindo da idéia básica da novela. “Desejo atroz” é um dramazinho burguês<br />

por excelência. Bárbara Stanwick vive na teia o papel de uma atriz de teatro,<br />

que abandonara o marido, duas filhas e um filho menor, em uma longínqua<br />

cidade do interior, para dedicar-se a vida teatral. Dez anos mais tarde, por<br />

ocasião da formatura de uma de suas filhas, ela recebe uma carta da formada,<br />

convidando-a a passar alguns dias na cidadezinha. A atriz aceita o convite, mas<br />

sua chegada provoca uma série de incidentes, que no final se resolverão da<br />

forma esperada. Como vêem os nossos leitores, o ponto de partida do filme não<br />

é mau, perfeitamente possível realizar-se uma película digna, com essa base.<br />

Entretanto, James Gunn e Robert Blees, conhecidos pela sua<br />

mediocridade, escreveram um roteiro de, péssima qualidade, embora correto<br />

tecnicamente. Do começo ao fim do filme, mantiveram-se na observação<br />

superficial e completamente ausentes da realidade das personagens. Estas<br />

foram reduzidas a meros clichês, sem nenhuma vida, sem continuidade<br />

psicológica. As situações foram resolvidas geralmente de forma esquemática<br />

ou então recorrendo ao absurdo, como aconteceu no final, quando lhes pareceu<br />

necessário encontrar uma “solução de alto conteúdo dramático”.<br />

Curioso, também, é observar a filosofia burguesa da fita. Embora a atriz<br />

seja a heroína da fita, sua vocação artística é completamente condenada, assim<br />

como a da filha. Ao mesmo, tempo, porém, o filme recusa teoricamente o<br />

convencionalismo (de que ele está eivado), o medo do falatório alheio e a<br />

subserviência à “gente bem”, o que não deixa de ser paradoxal.

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