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CRÍTICA DE CINEMA EM O TEMPO – 1954 - Bresser Pereira

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ANTHONY PELLISSIER<br />

10.10.54<br />

Procuramos ontem traçar as linhas mestras da conduta psicológica e<br />

passional dos personagens de “Tormento da suspeita”, cuja personalidade é<br />

analisada no filme em função do desaparecimento misterioso de uma jovem<br />

estudante. Complexos, recalques, paixões, sentimentos e desejos, são<br />

apresentados então, naquele ambiente burguês e medíocre da cidadezinha<br />

inglesa do interior.<br />

Filme tipicamente inglês, não possui a universalidade das grandes<br />

realizações, mas é uma película digna e autêntica. Se a analisarmos do ponto de<br />

vista formal, não diremos que é impecável, pois afinal é a forma que dá o<br />

último e definitivo toque na obra de arte. Entretanto, é preciso concordar que<br />

tanto o roteirista Lesley Storn como o diretor Anthony Pellissier demonstraram<br />

capacidade. O primeiro, possuindo diante de si uma história complexa, cheia de<br />

nuanças, difícil de levar à tela, logrou no entanto, plenamente, o seu intento.<br />

Embora obrigado a narrar uma sede de incidentes paralelos e nem sempre com<br />

muita continuidade no tempo, logrou imprimir à fita perfeita unidade<br />

dramática. Na descrição das personagens evitou toda simplificação, o mesmo<br />

fazendo com a formulação dos problemas.<br />

Quanto a Anthony Pellissier, seu trabalho merece nossa atenção. Diretor<br />

quase ignorado, conhecíamos dele um filme curioso, “Sublime inspiração”<br />

(“The rocking horse wi.ner”), baseado em um conto de James Joyce, que só<br />

não foi bem sucedido devido a um roteiro desordenado e nem sempre<br />

convincente. O estilo de Pellissier, no entanto, já nos impressionou naquela<br />

ocasião. Pela sua capacidade de criar ambiente e pelo relativo formalismo de<br />

sua montagem, lembra um pouco Carol Reed. Evidentemente, não podemos<br />

ainda fazer um julgamento mais aprofundado sobre esse diretor, do qual só<br />

vimos duas películas, exibidas com grande intervalo entre si. Todavia,<br />

chamamos a atenção dos nossos leitores para ele. Em “Tormento da suspeita”<br />

seu estilo de narração inicialmente nos chocou. Usava de primeiros planos e de<br />

movimentos de câmara com excessiva freqüência. Aos poucos, porém, fomos<br />

nos inteirando da absoluta funcionalidade dessa técnica. Desde o começo da<br />

fita, o roteirista deixa o espectador na dúvida sobre a verdadeira participação<br />

do professor no desaparecimento de sua aluna. Era preciso, portanto, criar um<br />

clima de insegurança e suspeita, e foi isso que Pellissier conseguiu<br />

inicialmente. Além disso, manteve o público em constante tensão, não<br />

deixando em momento algum que o ritmo da fita decaísse. E seu interesse pelos

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