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CRÍTICA DE CINEMA EM O TEMPO – 1954 - Bresser Pereira

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DOCUMENTO TRÁGICO<br />

31.10.54<br />

Não fosse a falta de poesia e de universalidade, dizíamos ontem, quando<br />

nos referíamos a “Os selvagem”, e teríamos um grande filme. De qualquer<br />

forma, porém, estamos diante de uma película notável. Nessa fita, Stanley<br />

Kramer, baseando-se em uma novela de Frank Rooney, focaliza a mocidade<br />

norte-americana em um de seus aspectos mais deprimentes. Usando de todos os<br />

recursos formais que o cinema fornece com o brilho e a funcionalidade que<br />

lhes são peculiares, e contando com o auxilio de uma excelente equipe, o<br />

realizador de “Matar ou morrer” descreve em cores vivas e traços firmes e<br />

sugestivos um grupo de jovens que busca uma evasão qualquer para todos os<br />

seus recalques, limitações e complexos. O que ele nos mostra é uma mocidade<br />

corrompida, estragada, cega, uma mocidade, que não existe apenas nos Estados<br />

Unidos mas em todos os países civilizados do mundo, apresentando em cada<br />

nação, em cada cidade, um aspecto característico.<br />

“O selvagem” serve como um documento vivo e trágico dessa juventude<br />

sem ideais que procura se libertar de si mesma. Um grupo de rapazes e algumas<br />

moças fundam um clube. Sua finalidade é sair nos fins de semana de sua<br />

cidade, de motocicleta, em grupos, em busca de emoções. Viajam então sem<br />

rumo certo, tornando parte em competições, provocando brigas, distúrbios<br />

praticando arbitrariedades, embebedando-se dançando, em total e violento<br />

desprezo a todas as convenções e normas sociais. Procuravam esses jovens nos<br />

dias de folga, negar toda a vida que levavam normalmente, evidenciando em<br />

suas existências uma falta de principies, de sentido e de finalidade, que<br />

refletem tragicamente o mundo moderno.<br />

O chefe desse bando de infelizes é Johnny, magistralmente<br />

protagonizado por Marlon Brando. Johnny domina todos eles, mas em seu<br />

olhar impassível e desesperançado há um toque de cansaço. Embora ele mesmo<br />

não o compreenda, vemos no começo do filme que aquela forma de vida não o<br />

satisfazia mais. O amor de uma jovem, que ele encontra em uma cidade, onde<br />

seu grupo de motociclistas resolve fazer as maiores arbitrariedades, abrira<br />

novas perspectivas para sua vida. Durante algumas horas a cidadezinha<br />

despoliciada e sem comunicação telefônica para fora, vê-se à mercê daquela<br />

rapaziada. O ronco das motocicletas, a cerveja, a luz dos faróis, o sexo e o jazz<br />

são elementos essenciais do clima do filme. Desde a primeira seqüência, com a<br />

câmara fixada diante da estrada deserta e o narrador começando a falar, a<br />

preparar o espectador para o que vira depois, desde esse momento fica

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