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CRÍTICA DE CINEMA EM O TEMPO – 1954 - Bresser Pereira

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REALISMO FENOMENOLOGICO<br />

07.07.54<br />

Tem-se discutido muito sobre o neo-realismo. Ainda há pouco se<br />

realizou em Parma um congresso destinado especialmente a tratar do problema,<br />

e que no entanto nada resolveu, a não ser afirmar que o neo-realismo não esta<br />

morto. Em nossas, colunas já temos nos referido ao assunto, ao criticarmos<br />

alguns filmes italianos. Falamos então do fenomenologismo. Hesitávamos,<br />

porém, em escrever uma crônica especialmente sobre a questão, devido á sua<br />

excessiva complexidade e às suas bases filosóficas. Entretanto, com a projeção<br />

do “Festival do Cinema Italiano”, e especialmente com a exibição de “Umberto<br />

D.”, de Vittorio De Sica, resolvemos tentar resumir o problema em poucas<br />

palavras.<br />

O neo-realismo é um fenômeno essencialmente italiano, surgido nos<br />

primeiros anos depois da guerra com os filmes de Roberto Rosselini “Roma<br />

cidade aberta”, “Paisá” e “Alemanha ano zero”. Entretanto, foi um francês, o<br />

abade Amedée Ayfre, em seu livro “Dieu au livro”, quem melhor o definiu.<br />

Devido à falta de espaço, deixaremos aqui de lado todos os problemas<br />

acidentais ou paralelo a questão, como o “social”, o caráter econômico e<br />

histórico do neo-realismo e suas causas (problemas esses geralmente<br />

considerados erroneamente essencial), para nos limitarmos ao cerne da questão.<br />

O neo-realismo no seu estado puro está intimamente ligado à<br />

fenomenologia ou à filosofia da existência, que, depois constatar a contradição<br />

entre o realismo aristotenco e do idealismo, conclui que a única realidade<br />

absoluta é a vida, a existência na sua totalidade, a vida do homem dentro do<br />

mundo que o rodeia, e portanto, afirma uma absoluta primazia da existência<br />

sobre a essência, do homem em situação sobre o homem em si.<br />

Conseqüentemente o neo-realismo ou realismo fenomelógico procura captar<br />

essa existência, essa vida do homem em situação, na sua globalidade, na sua<br />

totalidade, como um complexo unificado do qual só se deve tomar o conjunto,<br />

sem se interessar pelos pormenores e por qualquer interpretação dos pronomes<br />

ou de conjunto. Vejamos alguns exemplos: as duas figuras centrais de<br />

“Alemanha ano zero” e “Umberto D”, respectivamente o menino e o velho<br />

aposentado, são retratados como um todo do qual não se faz um julgamento<br />

analítico. Nenhum deles “interpreta” um papel no sentido clássico da palavra;<br />

não interessa a Rossellini ou a De Sica fazer uma analise psicológica<br />

pormenorizada dos mesmos, ou criar uma tensão dramática resultante de um<br />

jogo de paixões bem definidas. Importa aos dois pontífices máximos do neorealismo<br />

(não do cinema italiano) mostrar o seu comportamento exterior, real,

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