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CRÍTICA DE CINEMA EM O TEMPO – 1954 - Bresser Pereira

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SERÁ BOA INTENÇÃO?<br />

24.08.54<br />

A exibição no cine Normandie de dois filmes franceses, “Companheiras<br />

da noite” e “Escravos do vício” levou-nos a escrever esta crônica. O problema<br />

é o seguinte: será boa a intenção dos realizadores dessas películas, ambas<br />

defendendo uma tese moral? O primeiro descrevia-nos a situação miserável das<br />

meretrizes e as técnicas sórdidas usadas pelos que as exploram, constituindo-se<br />

por si só em uma severa crítica ao mundo moderno; o segundo profligava a<br />

toxicômania, narrando os efeitos da morfina em um viciado e a sua luta para<br />

libertar-se dessa verdadeira escravidão. “A primeira vista, a intenção de Habib<br />

e Ciampi, respectivamente os diretores do primeiro e do segundo filme, não<br />

pode ser melhor. Estão lutando contra tremendos males da nossa sociedade.<br />

Mas podemos tomar o problema sob outro aspecto. Não será essa vontade<br />

moralizante simples desculpa, hábil truque para poder abordar temas<br />

escabrosos, sujos, excitantes, de fundo sexual marcado, que serve de atração<br />

para tanta gente desclassificada, que vai ao cinema em busca de pornografia?”.<br />

Por enquanto estamos perguntando apenas, mas esta pergunta vale, não<br />

só para esses dois filmes acima citados, mas também para grande número de<br />

outros “filmes de tese”, muitos dos quais não permitem uma duvida sequer<br />

quanto à sua imoralidade. Não queremos, no entanto, precipitar conclusões de<br />

ordem geral. Raciocinemos um instante. Quando analisamos aquelas duas<br />

películas, nesta seção, não fizemos nenhuma alusão a esse problema,<br />

simplesmente porque somos críticos de arte e não moralistas; e como já temos<br />

dito mais de uma vez, a arte tomada em si mesma é independente da moral, na<br />

sua busca do belo, o que significa que uma obra não deixará de ser artística, por<br />

ser imoral, (note-se que imoralidade não é sinônimo de pornografia). Entretanto<br />

temos que nos lembrar que a arte também é humana; ela é criada pelos homens<br />

e para os homens. E portanto o crítico, ao examinar uma obra de arte, não deve<br />

examinar apenas seu caráter artístico, lembrando-se que, embora essa não seja<br />

sua função específica, deve analisá-la também sob o ponto de vista ético, pois<br />

se o fim último da vida humana é Deus, e a moral nos dá os meios de atingir<br />

esse objetivo, jamais podemos pô-la de lado.<br />

Mas, perguntamos novamente, voltando à questão: será boa, será<br />

honesta a intenção dos realizadores daquele tipo de filmes acima aludidos?<br />

Talvez seja. Não é muito provável, mas é possível. Tanto Rabib quanto Ciampi,<br />

em seus filmes, não ingressaram no campo da pornografia, não exploraram<br />

sexualmente os temas que trataram. Muita gente, que foi em busca de sujeira,<br />

decepcionou-se. Mas de uma coisa podemos estar certos: mesmo que esses

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